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Cinema: “Amadeo”, a “lenda da arte moderna portuguesa” ganha um filme à sua altura

Cinema: “Amadeo”, a “lenda da arte moderna portuguesa” ganha um filme à sua altura

Vicente Alves do Ó realiza um drama biográfico, com Rafael Morais, Ana Lopes e Ricardo Barbosa nos principais papéis. O crítico Jorge Leitão Ramos dá-lhe três estrelas

Depois de “Florbela” e de “Al Berto”, Alves do Ó prossegue o seu trajeto pela vida de figuras do século XX evocando o pintor Amadeo de Souza-Cardoso. “Lenda da arte moderna portuguesa” lhe chamou José-Augusto França em 1956, dando espaço à narração da vida breve do pintor de Manhufe e à análise crítica da obra.

A tanto não se abalança Alves do Ó. Da obra, além de uma amostragem em voo de pássaro, retém-se a intencionalidade do cineasta em construir plasticamente os planos incorporando, da vida, elementos que Amadeo transmutaria na tela; do percurso biográfico, o filme cuida de três momentos fulcrais: 1916 — Amadeo e a mulher, Lucie, em Manhufe, em retiro à guerra que devasta a Europa; 1911 — Amadeo e o círculo de amigos (Modigliani, Picasso, Eduardo Viana…) de arte e boémia, em Paris; 1918 — Amadeo em Espinho durante a pneumónica, pandemia que o levaria à morte.

Na primeira parte estabelece-se a personagem na dimensão de pintor laborioso e audaz, a sentir-se a sufocar no seu provinciano isolamento, com ânsias de retornar a Paris ou rumar a Nova Iorque. Situa-se a grande exposição que fez no Porto e alude-se a Lisboa. E marcam-se elementos visuais que sinalizam a obra pictórica. É a zona mais longa do filme onde se indicia uma solidão de Amadeo que excede a realidade histórica. Talvez tivesse sido curial sinalizar a sua relação com os modernistas de Lisboa, Almada e Pessoa, e a teia de contactos na Europa. A segunda parte é uma vinheta de folgança, laborada em trabalho de montagem que evoca a memória dourada que Amadeo não reencontrará.

A fotografia de Rui Poças mergulha em tons quentes, felizes. A terceira parte é uma via-sacra para a morte, primeiro com a doença de uma irmã e de Lucie, depois com o próprio padecimento de Amadeo, fatal. Imagens gélidas, glaucas madrugadas, escuridão. Em todo o filme, apura-se numa enxuta dignidade de processos narrativos apoiando um vasto conjunto de intérpretes onde quero singularizar Eunice Muñoz: só tem duas cenas, mas, sobretudo na primeira, é colossal.

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