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Cinema: Sara é a “Porquinha”, uma adolescente cheia de problemas, obesa e vítima de bullying na escola

Cinema: Sara é a “Porquinha”, uma adolescente cheia de problemas, obesa e vítima de bullying na escola

Estreia. Carlota Pereda apresenta um drama de terror com Laura Galán, Richard Holmes e Carmen Machi nos principais papéis. O crítico Francisco Ferreira dá-lhe três estrelas

A Sara todos chamam cerdita (a “Porquinha” do título) naquele pueblo da Estremadura espanhola, ali para os lados de Cáceres. Filha de talhantes, gente conservadora da classe média, a impressionante personagem a que Laura Galán dá corpo é uma adolescente cheia de problemas, a obesa da aldeia, vítima de bullying na escola, claro, amigos não tem, todos fogem dela.

E depois aparece um serial killer à solta por ali, um assassino impiedoso, descomunal, para espantar as moscas daquele verão e daquele lugar em que nada se passa. Sara testemunha aquilo que mais ninguém vê, um crime brutal, que a apavora e ao mesmo tempo a faz sentir-se vingada. Não, esta não é a banal história coming of age de alguém que está mal na sua pele, é tudo muito mais visceral e monstruoso do que isso, “Porquinha” acredita, de facto, que a adolescência é uma fase da vida rodeada de violência e de coisas muito mesquinhas. Aqueles que torturam Sara no quotidiano são tão repugnantes que torcer para que eles se salvem é impossível.

Aqui, já a espanhola Carlota Pereda (leva vários anos de trabalho na TV e em curtas-metragens — este filme é, de resto, a ‘ampliação’ de uma curta de 2018 com o mesmo nome), entrou sem receio no slasher movie e num cinema de género assumido, sem interesse em representações superficiais da crueldade (a audiência que se aguente...), sem tombar em personagens estereotipadas e previsíveis.

Carlota Pereda é apenas uma cineasta espanhola sem pergaminhos nem influências internacionais. Não sabe como tirar partido da imprensa, parasitando-a. Não tem nenhuma moça de fretes que lhe dê tempo de antena. Pereda acredita simplesmente no trabalho, no rasgo e no risco de nos dar um filme tão temerário como “Porquinha”. O terror não a assusta. O gore não lhe faz desviar o olhar. Acima de tudo — e goste-se mais ou menos do resultado — “Porquinha” é um filme corajoso e que sabe o que quer.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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