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Pode a música mudar vidas em Marrocos? Oiçamos “Alto e Bom Som — A Batida de Casablanca”

Pode a música mudar vidas em Marrocos? Oiçamos “Alto e Bom Som — A Batida de Casablanca”

Nabil Ayouch realiza o drama franco-marroquino, com Anas Basbousi, Ismail Adouab e Zineb Boujemaa nos principais papéis. O crítico Vasco Baptista Marques dá-lhe duas estrelas

Vasco Baptista Marques

O novo Ayouch gravita à volta de um espaço, o de um centro cultural de Sidi Moumen, um bairro operário situado no nordeste de Casablanca. Nessa instituição (que foi fundada pelo próprio cineasta), decorrerá de facto uma grande parte da ação de “Alto e Bom Som”: um híbrido de documentário e ficção que, à laia de âncora narrativa, se apoia numa figura que se interpreta a si mesma. Falamos de Anas: um jovem rapper (encarnado com bastante rigidez por Anas Basbousi) que, no início, desagua no referido centro para montar um atelier de hip hop destinado a libertar as consciências dos que o frequentam — adolescentes dos dois sexos, interpretados por não atores recrutados in loco.

O que se segue é, sobretudo, a recriação das aulas onde Anas vai tentando ajudar os alunos a vertebrar o seu discurso político e musical. Aí, a primeira coisa que surpreende (pela negativa) é a extrema arrumação dos diálogos. Tudo se passa como se as trocas verbais que tomam lugar entre os miúdos estivessem condicionadas à exigência de fazer o rol dos assuntos quentes da sociedade marroquina — a liberdade de expressão, o patriarcado... Sente-se que o jogo é conduzido a partir de fora, gerando por isso uma sensação de falsa espontaneidade. Além disso, o filme tem dificuldade em reconstituir as dinâmicas que se estabelecem numa sala de aula: muito por culpa do modo como a montagem tende a comprimir a duração daqueles planos rentes aos corpos, que terminam assim que esgotam o seu tema. Mais interessante (embora nada original) é a forma como, a espaços, o filme abraça a fantasia, saindo do centro cultural para descrever a vida familiar dos alunos, num processo onde o realismo é dinamitado por uma série de ‘monólogos rappados’: alheando-se de súbito do seu contexto, as personagens improvisam então canções que dão testemunho do seu sentimento de ‘despertença’. Chega para aligeirar o ar, que cedo volta a ter de suportar o peso da mensagem (importante, sem dúvida) que Ayouch quer entregar ao espectador. / Vasco Baptista Marques

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