O jornalismo a sério é das atividades mais perigosas, quando não impossíveis, na Rússia de hoje. Entre os heróis que perderam a vida ou a liberdade nesse empreendimento conta-se um número não despiciendo de mulheres, a começar por Anna Politkovskaya. Assassinada em 2006, foi o modelo de Elena Kostyuchenko, uma jornalista nascida em 1987 que mal teve tempo de a conhecer quando ambas trabalharam no “Novaya Gazeta”, um dos raros media independentes que então existiam na Rússia. Falando ao Expresso, Kostyuchenko evita criticar o jornalismo ocidental, mas é inevitável o contraste entre uma prática focada na intriga política e outra que lida com temas de alto impacto, e não raro perigosos. Além de jornalista, Kostyuchenko multiplicou o risco com o seu ativismo gay, e foi presa após uma manifestação por ocasião dos Jogos Olímpicos de inverno em Sochi. Sobretudo após a sua cobertura da guerra na Ucrânia, tornou-se impossível permanecer na Rússia. Mas lamenta não poder continuar a reportar no seu país, sobre e para russos. A sua antologia “Amo a Rússia — Histórias de um País Perdido” (Temas e Debates), não é verdadeira apenas no título.
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