Cá fazia primavera. Era uma segunda-feira. O 25 de Abril tinha sido há apenas um mês e meio. O país revolvia-se de norte a sul. Aquele 10 de junho de 1974, feriado nacional, mantinha os resquícios de uma celebração inspirada no ideário do fascismo luso e continuava a assinalar o “Dia de Portugal, de Camões e da Raça”. No Porto, para um vasto conjunto de artistas aglutinados à volta da Cooperativa Árvore, da Seiva Trupe, do Teatro Experimental e do Cineclube, e quase todos eles com ligações diretas ou indiretas à Escola de Belas-Artes, o tempo era de rutura. Ainda assim em festa. Com humor. Num ato performativo marcado por uma radicalidade tranquila, encenada em frente ao Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), com cortejo iniciado na Cooperativa Árvore, decretavam a morte do museu, adornada com a mais contraditória e subversiva das proclamações: “Viva o Museu”.
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