Exclusivo

Culturas

Festival de Almada com Olivier Py, Robert Wilson e Lucinda Childs: o tempo de o teatro falar consigo mesmo

Robert Wilson e Lucinda Childs recuperam um espetáculo que tinham feito em 1981: “Relative Calm” (CCB, Lisboa, 12 e 13)
Robert Wilson e Lucinda Childs recuperam um espetáculo que tinham feito em 1981: “Relative Calm” (CCB, Lisboa, 12 e 13)
Lucie Jansch

À 41ª edição, o Festival de Almada mostra o teatro nas suas relações consigo mesmo. Estreia-se Olivier Py e regressam Robert Wilson, Lucinda Childs e Peter Stein

Há alguns dias, durante a apresentação do Festival de Almada deste ano, Rodrigo Francisco, que dirige o festival, referiu uma das características deste acontecimento: o facto de não haver uma linha temática. Melhor: se quisermos, o tema do festival é, muito simplesmente, o teatro. A afirmação não é nova e é verdadeira; contudo, desta vez, ficou a ressoar para lá daquela manhã, e além de muitas outras coisas que, então, aconteceram. E dei comigo a pensar que, em 2022, aqui mesmo nestas páginas, tinha falado do Festival de Almada e das suas relações com os vizinhos; no ano seguinte, foi a relação entre o teatro e a vida — um “caso” muito falado — que teve lugar de destaque. E agora, pensando nas tais palavras do diretor do festival, era se calhar das relações do festival consigo mesmo que se tratava. Mas não, não era bem isso; era das relações do teatro consigo mesmo que eu queria falar; era à volta desse outro “caso”, dessas relações tão evidentes e tão complicadas, que as coisas podiam ser ditas, escritas, pensadas. E logo uma ideia surgiu, claro, a de uma figura que olha para a sua imagem refletida numa superfície espelhada, aquática, e dela se enamora, assim se perdendo e, ao mesmo tempo, ganhando a imortalidade; e da surpresa que acompanha esse olhar, essa imagem; a descoberta da alteridade em si mesma, do eu como outro; talvez, nessa descoberta, a imagem da beleza, ou de alguma coisa nova; e o susto, aquela espécie de medo, ou de terror, que pode vir com a descoberta não só daquilo que é horrível como com a descoberta daquilo que é belo, ou sublime; e com a descoberta daquilo que é novo.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate