Quem entre, por estes dias, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, na Fundação de Serralves, no Porto, encontra, à esquerda do corredor de acesso, uma sala decorada como uma habitação pequeno-burguesa de outrora, onde não faltam um trabalho de malha, mãos femininas em curso de laboração, e um televisor onde está a exibir-se “Amor de Perdição”, porventura em irónica evocação torturante do modo como aquele filme, retalhado em forma de série, se estreou em Portugal. Corredor fora, ao fundo, desembocamos numa sala grande, com as paredes fantasmaticamente grafadas com materiais dos filmes de Oliveira e, ao centro, um enorme amontoado de móveis velhos. Contornando-o, há vitrinas onde se expõem elementos do copioso arquivo documental depositado nesta casa — como se de uma acumulação de tralha nascessem luzes. É deste modo peculiar que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira continua a chamar a atenção para o seu valiosíssimo espólio. Desta feita, sob a designação genérica “Manoel de Oliveira e o Cinema Português”, estamos numa fase “2. Liberdade”, percorrendo as décadas de 1970 a 1990. O evento, contudo, não se reduz à exposição, tendo outros dois pilares: um longo ciclo de cinema, onde se exibem as obras de Oliveira desse período enquadrados por outros filmes portugueses seus contemporâneos, e um volumoso catálogo imprimindo alguns dos materiais do arquivo e textos analíticos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt