Culturas

O ucraniano Andrei Kurkov é uma testemunha da “guerra do século XXI”. Esta é a língua que a guerra fala

2 outubro 2022 9:29

Luciana Leiderfarb

Luciana Leiderfarb

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Jornalista

Andrei Kurkov, nome maior da atual literatura ucraniana, é agora editado em Portugal. O escritor ucraniano falou com o Expresso em 2022

roberto ricciuti/getty images

“Abelhas Cinzentas” é a primeira obra lançada em Portugal do maior escritor ucraniano dos nossos dias. Andrei Kurkov escreveu-a a pensar nos civis entalados no conflito do Donbas

2 outubro 2022 9:29

Luciana Leiderfarb

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Jornalista

Antes de uma guerra há sempre outra. E antes daquela que desde fevereiro assola a Ucrânia, havia um conflito “silencioso” e silenciado, a decorrer desde 2014 no Donbas. Andrei Kurkov, o maior escritor ucraniano contemporâneo, traduzido para 30 línguas, visitou a região em três oportunidades. Assistiu à chegada dos refugiados a Kiev e um deles, que continuou a levar medicamentos e comida às sete famílias de uma aldeia próxima da linha da frente, de onde tudo tinha desertado (o gás, a eletricidade, a mais elementar loja), acordou-o para uma lacuna: dos 200 livros que tinham sido escritos sobre esta guerra, “não havia nenhum sobre os civis”. E assim, sem o planear, Kurkov começou a rendilhar “Abelhas Cinzentas”, agora lançado pela Porto Editora.

Em conversa com o Expresso desde a Noruega, onde se encontra a dar palestras (o destino seguinte é a Suíça e depois Portugal, antes de regressar à Ucrânia), explica como aquela guerra em estado de “hibernação ativa”, com “movimentos de artilharia e snipers e vítimas”, mas sem combates como aqueles a que hoje assistimos, foi recebida com indiferença no Ocidente. “Na Europa, era confortável não pensar na guerra que decorria na Ucrânia. Sobretudo quando, após a anexação da Crimeia e o início da guerra no Donbas, Angela Merkel começou a construir um gasoduto subaquático entre a Alemanha e a Rússia”, observa Andrei Kurkov. O conflito “não era problema dos europeus, no máximo era um problema dos russos”. Porém, desde 2014, foram mobilizados 400 mil ucranianos para o Donbas. “Nesse sentido, a guerra esteve tão presente quanto hoje, em cada vila do país. Em cada uma delas há milhares de sepulturas.”

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.