Estranho Ofício

Toma uma sopinha, Vincent. É pelo planeta

21 outubro 2022 0:07

Teríamos feito maiores e mais rápidos progressos com menos retórica e mais sopa de tomate

21 outubro 2022 0:07

Quando duas activistas arremessaram sopa de tomate a um quadro de Van Gogh fiquei imediatamente mais sensibilizado para as questões da emergência climática. Há qualquer coisa no arremesso de caldo a obras de arte que desperta em mim a consciência ecológica. Algumas pessoas, menos sofisticadas, não perceberam a relação entre uma coisa e outra, e alegaram que o acto, mesmo simbólico, de destruir uma obra de arte, costuma ser prática de gente autoritária. Recordaram o episódio em que um oficial nazi disparou contra a tela, numa sala de cinema em que estava a ser exibido “O Grande Ditador”, de Charlie Chaplin, ou a queima de livros de Salman Rushdie, por exemplo, para lembrar que há qualquer coisa um pouco arrepiante naquele procedimento. Essas pessoas talvez não tenham percebido que as activistas não se limitaram a entornar sopa em cima do quadro. Também nos lançaram a seguinte pergunta, enquanto a sopa escorria pelos girassóis: “O que vale mais, a arte ou a vida? Estão mais preocupados com a protecção de um quadro ou com a protecção do nosso planeta e das pessoas?” É uma pergunta que nos interpela profundamente, sobretudo por ser mesmo estúpida. Ninguém tem dúvidas de que qualquer vida humana é mais importante do que qualquer objecto, além de que a preocupação com a protecção de uma obra de arte, além de ser perfeitamente justificada e legítima, não prejudica em nada outro tipo de preocupações.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.