Reconhecido essencialmente como filósofo e matemático, Pitágoras de Samos foi muitas vezes alvo de gozo na sequência das suas escolhas alimentares. Na verdade, o criador do teorema de Pitágoras foi um dos pais do vegetarianismo clássico. Ou seja, acreditava que todos os seres vivos tinham almas que migravam de um corpo para o outro, o que causava estranheza na Grécia Antiga do século V a. C. Até ao século XIX, quando alguém queria referir-se a uma pessoa que não comia carne animal apelidava-o termo “pitagórico”.
Hoje não é assim — o termo vegetariano terá surgido pela primeira vez em publicações inglesas do século XIX, popularizando-se ao longo desse século e do seguinte, com a criação das primeiras sociedades e de outras instituições ligadas ao vegetarianismo e o reforço deste conceito no discurso público e dos benefícios para a saúde, sustentabilidade ambiental e defesa dos animais. À medida que novos produtos e inovações foram chegando ao mercado, proporcionando aos consumidores alternativas à base de vegetais para alimentos como a carne, peixe, marisco, ovos e laticínios, as vendas a retalho destes alimentos na Europa aumentaram significativamente. Em 2022, estes produtos alimentares representavam um mercado de €5,8 mil milhões, aumentando 21% face a 2020, de acordo com dados da associação sem fins lucrativos The Good Food Institute referentes a 13 países europeus, entre os quais Portugal.
Por cá, as vendas destes alimentos subiram, em 2022, 20% e 7% em comparação com 2020 e 2021, respetivamente. E a população de veggies também cresceu. De acordo com uma análise da consultora alimentar espanhola Lantern, os flexitarianos (que seguem uma alimentação de base vegetal, com consumo esporádico de produtos de origem animal como carne, onde se inclui o peixe), vegetarianos (que excluem o consumo de carne, mas consomem laticínios e ovos) e vegans (não consomem carne, ovos, laticínios, nem qualquer outro derivado de origem animal) ultrapassavam um milhão de pessoas (11,9%) em 2021, uma subida de 32% face a 2019. Já a população omnívora caiu de 88,6% para 88,1%.
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