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A caminho de Santo António: onde cabe a Madeira toda

A caminho de Santo António: onde cabe a Madeira toda

Um em cada 10 madeirenses vota aqui, numa freguesia onde os turistas só param para contemplar a vista sobre a baía. São 25 mil pessoas distribuídas por todas as classes sociais, numa mistura complexa de realidades próximas e, que ainda assim, nunca se tocam

Duarte Sá

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O mundo cabe em Santo António. Os bairros sociais fazem fronteira com urbanizações de luxo, onde há casas à venda por €5 milhões. Encosta acima, em lugares longe da vista dos turistas e tão inclinados que até o autocarro tem tração às quatro, há quem viva em casas de construção ilegal, sem licença para água e luz. E nas zonas de prédios novos já se paga mais de mil euros de renda. Um em cada 10 madeirenses vive aqui, nos 22 quilómetros quadrados desta freguesia do Funchal. E vota aqui. José Tentem nasceu há 47 anos, é do mesmo ano das primeiras eleições regionais. A vida mudou muito desde então. “Isto aqui por cima não era assim”. Pedreiro de profissão, criado ali em cima, naquele lugar onde acabam as casas e começa a serra, tem memória de quando no caminho não era possível passar um carro e o esgoto era ligado para os ribeiros. Podia ser apenas uma memória, mas é algo mais. O tempo passou, mas a vida não está muito melhor.

“A minha casa não está legal. A água e a luz foi uma ligação que fiz à casa da minha mãe. A arquiteta da câmara não me passou a licença, queria que eu pedisse autorização do vizinho por causa dos afastamentos, aos donos desse terreno. Sabe quantos donos isso tem? A senhora teve 18 filhos...” A teima foi grande e 20 anos depois tudo está igual nesta parte de Santo António. Sem contador de luz e de água, a morar onde sempre morou e com vista para o terreno do vizinho, onde pasta uma cabra e crescem abóboras. “Só passei da casa de baixo para a casa de cima”, diz, enquanto explica que todos os dias faz uma sessão de ginástica para estacionar o carro. No Pomar do Miradouro, na zona alta de Santo António, é difícil encontrar lugar. Não há parques e a geografia não ajuda naquele emaranhado de becos, escadinhas e veredas.

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