19 fevereiro 2023 10:12

Em 2022, num espaço de cinco meses, saíram duas grandes obras sobre a vida de Fernando Pessoa. Estranhamente parecidas segundo um dos biógrafos, totalmente diferentes segundo o outro. O Expresso falou com ambos
19 fevereiro 2023 10:12
Maria Madalena deslocava-se num ‘americano’ — aqueles veículos coletivos puxados por cavalos que circulavam sobre carris na Lisboa de metade do século XIX — quando se cruzou pela primeira vez com João Miguel Rosa. Ela era a mãe viúva de Fernando Pessoa, ele um capitão da Marinha portuguesa que não lhe resistiu. O quadro está pintado de modo a sugerir que ambos iam no transporte e que, “a dado momento, Maria Madalena se apercebeu de que um homem sentado à frente dela a olhava, e não era com total discrição: queria que ela percebesse que estava a ser observada”. Ele “deve ter feito um comentário fortuito, para meter conversa”, “ela deve ter-lhe explicado a razão de estar vestida de preto e ele ter-lhe-á apresentado os habituais sentimentos”.
Esta é a descrição feita do encontro no primeiro capítulo de “Fernando Pessoa: Uma Biografia”, de Richard Zenith. Contactado pelo Expresso, o autor esclarece que encenou o episódio — daí o uso de expressões como “ela deve ter-lhe explicado” — e até duvidou se não teria ido longe demais no uso da liberdade narrativa. Baseara-se no livro “Fernando Pessoa — Notas a Uma Biografia Romanceada”, escrito em 1951 por Eduardo Freitas da Costa, primo de Pessoa, segundo o qual João Miguel Rosa terá apontado para Maria Madalena, que ia a bordo de um americano, e dito que ela só não seria a sua mulher se não quisesse. Assumindo a criação de imagens que ajudem a contar a história como parte do trabalho de um biógrafo, Zenith agarrou na citação e completou a cena. Mas era-lhe “impossível saber se João Rosa estaria com Maria no americano, se estariam sentados frente a frente” ou o que ela terá pensado ou dito naquela ocasião.
“DIREITO DE RETIFICAÇÃO
Na sua edição de 17/2/2023, publicou o jornal EXPRESSO, com chamada de 1ª página, a págs. 26 a 31 da Revista “E”, um texto da jornalista Luciana Leiderfarb, intitulado de «Desassossego de uma biografia», na qual se afirma, a propósito do meu livro “O Super-Camões”, e cito, que «a biografia de Zenith apenas consta, genericamente, da bibliografia listada no fim do livro, e só na versão portuguesa». Tratando-se de uma afirmação manifestamente inverídica e falsa, como a referida jornalista poderia ter constatado logo na página 20 do meu livro (mas também na p. 406 ou na p. 880), onde os trabalhos de Richard Zenith são citados mais de 30 vezes, solicito que seja publicado o presente esclarecimento.
João Pedro George”
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.