10 dezembro 2022 22:37
A Europa ainda não sabe como vai gerir os próximos invernos, consumado o divórcio do gás russo. Portugal não passou incólume, mas também não viveu o drama de outros parceiros europeus. As renováveis estão a revelar-se como um seguro contra a volatilidade de preço. E o país tem uma enxurrada de grandes projetos fotovoltaicos a nascer. Serão a chave para trancar futuras crises energéticas do lado de lá do nosso quintal?
10 dezembro 2022 22:37
O quotidiano de Nuno Santos Silva, 36 anos, é um trabalho repartido entre o ar puro do Alentejo e um pequeno escritório num contentor instalado no meio de uma central solar. Não é uma central qualquer. A Ourika foi a primeira fotovoltaica de larga escala a entrar em operação em Portugal sem qualquer subsidiação. Fruto de um investimento de €35 milhões, foi inaugurada em 2018, ocupando cerca de 100 hectares em Ourique. Pertence hoje à seguradora alemã Allianz, que nos últimos anos decidiu apostar em ativos de energias renováveis, uma fonte de rendimento de longo prazo com relativa previsibilidade: enquanto houver sol, há eletrões que rendem cifrões. E é Nuno quem diariamente se desloca à central, como supervisor da manutenção. O funcionário da Prosolia, a empresa luso-espanhola que desenvolveu este empreendimento, acompanha o empreendimento desde 2018. Antes vivia em Castro Verde e trabalhava na Somincor. É uma história, entre tantas outras, de uma geração de engenheiros a viver do impulso que as renováveis tiveram em Portugal nos últimos anos. Esta vaga de investimentos que promete continuar. E é uma peça-chave para a resiliência do país num quadro de profunda insegurança que a Europa vai vivendo no domínio energético.
Numa sexta-feira soalheira de novembro Nuno Santos Silva explica-nos que as centrais fotovoltaicas precisarão sempre de intervenção humana. “Temos vários tipos de manutenção corretiva e preventiva. O painel solar tem uma degradação que pode ser causada por sombras, com falhas de energia. E há ratos que roem cabos. Mas eles já cá estavam. Nós é que viemos para cá ocupar o seu espaço”, aponta. Ratos, coelhos, cobras e ovelhas são visitantes habituais de uma central que ocasionalmente também recebe visitas de estudo. A central Ourika só emprega três pessoas em permanência, mas as operações de manutenção ao longo do ano envolvem mais 30 a 40 pessoas, de diferentes empresas.
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