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A Marcha sobre Roma e as memórias de uma Itália fascista

MOVIMENTO Os “camisas pretas”, como os fascistas eram conhecidos, fotografados na Marcha sobre Roma, em 1922
MOVIMENTO Os “camisas pretas”, como os fascistas eram conhecidos, fotografados na Marcha sobre Roma, em 1922
Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images

No centenário da exibição de força dos fasci italiani di combatimento, um olhar pela atualidade da política italiana leva-nos a uma interrogação inquietante: será que a História se pode repetir?

A 27 de outubro de 1922, milhares de militantes dos fasci italiani di combatimento, um grupo paramilitar legalizado como partido político, iniciaram uma marcha com o objetivo de exibir a sua força e entrar marcialmente na cidade de Roma. A ideia do gesto inspirou-se na época clássica, designadamente nas entradas dos generais triunfadores na cidade eterna, onde o aparato cénico era protagonista. O número de envolvidos não é consensual, estimando-se que andasse pelos 30 mil homens. Cesare Maria Vecchi, que garantira nada fazer contra a vontade do Rei Victor Emmanuel III, comandava a encenação. Mas o verdadeiro líder do movimento era Benito Mussolini, um jornalista e antigo combatente da Grande Guerra que trocara o socialismo pelo fascismo, e a admiração por Karl Marx pela inspiração em Friedrich Nietzsche.

No dia seguinte ao início da marcha, 28 de outubro, os fascistas entraram em Roma com a expectativa de derrubar o Governo de Luigi Facta e forçar a sua integração num executivo de coligação abrangente, que apenas excluísse os socialistas. Prudentemente, Mussolini manteve-se em Milão a aguardar noticias. A 29 de outubro, recebeu um telegrama com uma mensagem que superou as suas expectativas. Cansado da instabilidade parlamentar e receoso da ocorrência em Itália de uma revolução semelhante à russa, que levara os bolcheviques ao poder e eliminara os Romanovs, o Rei Victor Emmanuel III convidava Mussolini para formar Governo. Tal como aconteceria com Hitler cerca de 11 anos depois, o Partido Fascista chegava ao poder por via legal. Bastariam quatro anos para desmantelar o sistema liberal, num crescendo de radicalização e ambição que acabaria de forma trágica.

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