5 novembro 2022 9:46

MOVIMENTO Os “camisas pretas”, como os fascistas eram conhecidos, fotografados na Marcha sobre Roma, em 1922
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No centenário da exibição de força dos fasci italiani di combatimento, um olhar pela atualidade da política italiana leva-nos a uma interrogação inquietante: será que a História se pode repetir?
5 novembro 2022 9:46
A 27 de outubro de 1922, milhares de militantes dos fasci italiani di combatimento, um grupo paramilitar legalizado como partido político, iniciaram uma marcha com o objetivo de exibir a sua força e entrar marcialmente na cidade de Roma. A ideia do gesto inspirou-se na época clássica, designadamente nas entradas dos generais triunfadores na cidade eterna, onde o aparato cénico era protagonista. O número de envolvidos não é consensual, estimando-se que andasse pelos 30 mil homens. Cesare Maria Vecchi, que garantira nada fazer contra a vontade do Rei Victor Emmanuel III, comandava a encenação. Mas o verdadeiro líder do movimento era Benito Mussolini, um jornalista e antigo combatente da Grande Guerra que trocara o socialismo pelo fascismo, e a admiração por Karl Marx pela inspiração em Friedrich Nietzsche.
No dia seguinte ao início da marcha, 28 de outubro, os fascistas entraram em Roma com a expectativa de derrubar o Governo de Luigi Facta e forçar a sua integração num executivo de coligação abrangente, que apenas excluísse os socialistas. Prudentemente, Mussolini manteve-se em Milão a aguardar noticias. A 29 de outubro, recebeu um telegrama com uma mensagem que superou as suas expectativas. Cansado da instabilidade parlamentar e receoso da ocorrência em Itália de uma revolução semelhante à russa, que levara os bolcheviques ao poder e eliminara os Romanovs, o Rei Victor Emmanuel III convidava Mussolini para formar Governo. Tal como aconteceria com Hitler cerca de 11 anos depois, o Partido Fascista chegava ao poder por via legal. Bastariam quatro anos para desmantelar o sistema liberal, num crescendo de radicalização e ambição que acabaria de forma trágica.