A Revista do Expresso

A casa que falta aos mestres antigos do casal Cortez de Lobão

9 outubro 2022 14:10

Christiana Martins

Christiana Martins

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Jornalista

Nuno Botelho

Nuno Botelho

fotografias

Fotojornalista

JOÃO E MARIA O casal junto a um autorretrato de Élisabeth Vigée Le Brun (1794)

Quantos portugueses têm um Van Dyck na sala de estar? Maria e João Cortez de Lobão têm. E contam ainda com mais um conjunto de pinturas que faz inveja a importantes instituições nacionais. A maioria está em armazéns em Portugal, no Reino Unido e nos Estados Unidos porque falta-lhes um museu a que chamem seu

9 outubro 2022 14:10

Christiana Martins

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Nuno Botelho

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o centro de Lisboa, no tradicional bairro da Estrela, numa moradia antiga com direito a capela particular, à nossa espera no átrio está um manequim em tamanho real a quem apetece dar os bons-dias. Depois de se subir uma escadaria de mármore, ladeada pelas folhagens ilusórias de uma pintura em trompe-l’oeil, chega-se à sala de estar e, na parede, por cima do sofá de um azul acinzentado, cercado por outros quadros, está uma pintura de um gabarito que nem as do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) têm: “A Família de Cornelis de Vos”, pintada por Antoon van Dyck no fim do século XVI. São assim as pequenas grandes surpresas da casa de Maria e João Cortez de Lobão, que nos últimos anos se dedicaram a construir uma já importante coleção de pintura de mestres antigos. Uma coleção que querem partilhar com os portugueses. Além do Van Dyck, têm Luca Giordano, Élisabeth Vigée Le Brun, Giovanni Baglione, Bartolomeo Manfredi, Sigmund Holbein, Hans Holbein, o Jovem, Álvaro Pires d’Évora, Domingos António de Sequeira, Baltazar Gomes Figueira e Josefa d’Óbidos, entre muitos outros. Falta-lhes, contudo, o espaço ideal para os mostrar.

O Van Dyck ainda não foi exibido, mas alguns dos quadros estão a ser mostrados ao público numa sala do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Sob o título “O Belo, a Sedução e a Partilha”, a mostra vai sinalizando as obras que o casal tem comprado nos últimos anos. Uma coleção particular, a que os promotores imprimiram as suas impressões digitais. Não é inocente que na tela daquele quadro de Van Dyck sobre o sofá — uma pintura que foi roubada pelos nazis durante a II Guerra Mundial — esteja reproduzida a imagem de uma família. A mãe, Susanna Cock, com as roupas típicas dos Países Baixos no período seiscentista, segura no colo o filho, um bebé irrequieto, abraçado pela irmã mais velha. Por trás de todos, com um gesto protetor, está o pai. Pintor e negociante de arte, Cornelis de Vos, nasceu em 1584 numa família de artistas e foi influenciado pela técnica de Van Dyck, tendo-lhe pedido mesmo que fizesse um retrato da família. A pintura a óleo de 117 por 111 centímetros foi leiloada pela Sotheby’s por muitos milhões de euros, um valor que o casal não quer revelar. Hoje, o quadro faz parte da família Cortez de Lobão, como se fosse mais um membro daquele núcleo.