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Auf wiedersehen, Rui Rio. Bastidores de uma liderança incompreendida e fracassada

Rui Rio antes de subir ao palco
Rui Rio antes de subir ao palco
José Fernandes

Quatro anos depois, Rui Rio passa o testemunho. Estas são as histórias nos bastidores de uma longa liderança no maior partido da oposição, tão incompreendida como fracassada. E os muitos desafios que deixa ao sucessor

O documento em formato PDF ia para trás e para a frente, via Florbela Guedes. Continha a imagem de um camião-palco cor de laranja, estilo “Domingão”, com a fotografia do líder do PSD e aquele que seria o slogan da campanha para as legislativas de 2022. “Missão Portugal” foi a primeira versão sugerida pela agência de comunicação de João Tocha. Demasiado nacionalista... demasiado extrema-direita. Rui Rio não gostou. Florbela Guedes, diretora de comunicação e braço direito do líder do PSD desde os tempos da Câmara do Porto, passaria a mensagem. Para trás e para a frente. “Novos horizontes para Portugal” seria a opção consensualizada. Mas ainda não estava bem assim. Era preciso pôr “Portugal ao centro” bem no meio do camião que ia percorrer o país nas duas semanas de campanha. Feito.

Rui Rio e João Tocha, o político e o especialista em marketing político, reuniram-se uma única vez. Foi em 2019, meses antes das primeiras legislativas de Rio contra Costa, numa altura em que o líder do PSD sofria um particular fogo cruzado por não fazer oposição. A conversa terá sido mais ou menos assim: “Temos de deixar cair a ideia de que o PS devolveu rendimentos às pessoas.” “Mas devolveu, não posso dizer o contrário...” Não era por ali que Rui Rio mudaria o discurso. Então, e se fosse pelas empresas, a carga fiscal, a baixa produtividade, os crescimentos anímicos e a falta de competitividade da economia? “Ok, isso posso fazer.” Foi a primeira e única conversa que o líder do PSD teve com a agência de comunicação com quem viria a trabalhar, esporadicamente, nos anos que se seguiram. Começou com uma avença mensal na casa dos 3 mil euros para prestar ajuda à comunicação do dia a dia — mas a relação de Rui Rio com a imprensa sempre foi... particular, e a parceria não durou muito. No final do ano passado, contudo, os telefones voltaram a tocar: era preciso profissionalizar a campanha mais decisiva da vida de Rio. Se perdesse estas eleições, ou melhor, se o PSD voltasse a não ser útil à governação, estava out. Desta vez, segundo apurou o Expresso junto de fonte da organização, o contrato seria mais generoso: 10 mil euros por mês, num total de três meses. E isso incluía toda a configuração gráfica da campanha, gestão de redes sociais e meios digitais.

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