"[A corrupção] começa num favor, numa relação normal com um amigo que pede alguma coisa. Na primeira vez não há problemas, mas depois as coisas agravam-se, e o que começa num facto lícito acaba num crime", afirma Guilherme d'Oliveira Martins, antigo presidente do Tribunal de Contas, em entrevista publicada na edição deste sábado do Diário de Notícias.
Oliveira Martins, que foi duas vezes ministro (da Educação e das Finanças), defende que a a "prevenção" é a trave-mestra do combate à corrupção. O pretexto imediato da entrevista do DN é o facto de Guilherme de Oliveira Martins ter sido o autor escolhido para assinalar o nº 100 dos ensaios da Fundaçãpo Francisco Manuel dos Santos.
O também antigo presidente do Centro Nacional de Cultura assina a obea "Património Cultural, Realidade Viva". E a este propósito, diz Guilherme d'Oliveira Martins: "Como fui ministro das Finanças, nunca escondi que era fundamental o investimento na cultura, porque é um dos sectores mais reprodutivos".
Um assunto de atualidade com fumos de corrupção, desvendadas pelas investigações do Luanda Leaks (a cargo do consórcio internacional de jornalistas de que o Expresso faz parte) atravessa outra entrevista da edição deste sábado do DN.
É do escritor angolano José Eduardo Agualusa, que afirma:"Banqueiros, políticos e empresários. Toda esta gente foi cúmplice de Isabel dos Santos". Agualusa diz que o processo, de que agora se conhecem dados relevantes, "só foi possível com uma teia de cumplicidades em Portugal". E numa análise do rumo que as autoridades angolanas devem seguir, o escritor afrma que [o Presidente da República] "João Lourenço não pode recuar", pois "seria cilindrado".
Já numa apreciação mais genérica do caso, José Eduardo Agualusa socorre-se da ironia: "Isabel dos Santos estava convencida de que tinha direito a enriquecer. Deve ser a pessoa mais surpreendida".
Surpreendido pelo curso das coisas parece mostrar-se Lech Walesa, o líder histórico do "Solidariedade", o sindicato polaco criado há 40 anos e que teve um papel decisivo na queda do regime comunista do país. O facto seria precursor de outros movimentos na Europa de Leste que redundaram na queda do Muro de Berlim e no fim da União Soviética.
Noutra entrevista publicada nesta edição do DN, Walesa, hoje com 76 anos, recorda: "O meu papel, que eu atribuí a mim mesmo, foi simples: derrubar o sistema e dar à nova geração os meios para resolver os problemas do futuro. E decidi afastar-me. Mas não gosto do que vejo".
E acrescenta, desenganado, o antigo sindicalista dos operários metalúrgicos de Gdansk: "Quando o comunismo estava a cair, eu pensava que existiria uma estratégia para integrar os países de Leste. Estava enganado. Os governos europeus queriam acabar com o sistema comunista, mas não fizeram ideia do que seria o futuro. Não havia estratégia nenhuma".
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