

A "proximidade de Marcelo Rebelo de Sousa com Ricardo Salgado" é um assunto escaldante. O tema já motivou uma acessa troca de palavras e acusações no único frente-a-frente entre o atual Presidente e Ana Gomes. E, pelos vistos, "muitas críticas" chegaram aos ouvidos da candidata. Nada, porém, que a faça calar. "Acho que isso é relevante", disse esta quarta-feira. Desta vez, foi um evento digital da campanha presidencial, para contornar as limitações de uma corrida presidencial em plena pandemia, Ana Gomes programou fazer, diariamente, às 18 horas um conjunto de "sessões públicas on-line". O pontapé de saída foi dado por Isabel Soares, filha dos históricos fundadores do PS Mário Soares e Maria Barroso, e mandatária nacional de Ana Gomes, que designa como "a candidata da esperança".
Durante cerca de 45 minutos, falou-se de liberdade e democracia, educação e cultura. Falou-se da luta pela igualdade de oportunidades das mulheres como "um verdadeiro combate pelos direitos humanos" e da importância da sensibilidade feminina na gestão das sociedades. Que se vê nas pequenas coisas. Como o local e o decor escolhido para o unico debate com todos os candidatos, transmitido na terça-feira, na RTP1.
"É evidente que foi um homem a escolher aquilo tudo", diz Ana Gomes. "O cenário era muito bonito, mas gelado. Levei duas horas a descongelar e os meus pés eram pedra", confessa a candidata. Pior: os "banquinhos" altos colocados para os participantes aguentarem o debate obrigaram as duas candidatas a ficar "permanentemente de pé, porque sentadas" teriam "de ficar de pernas abertas o que não era muito agradável nem estético".
"Protestei", garante a candidata. Mas a notícia da reclamação junto da RTP não foi a principal revelação da noite. O regresso ao ataque a Marcelo Rebelo de Sousa pode ser uma repetição, mas a candidata lembra que, mesmo antes dos mega-processos, o caso Monte Branco trouxe alguma lenha para a fogueira do BES. "O caso nunca chegou a lado nenhum, mas uma das revelações que trouxe à luz do dia foi o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter sido o intermediário por indicação do seu próximo Ricardo Salgado para ir buscar financiamento a Angola para o jornal onde então (o atual PR) escrevia". O jornal era o Sol e "quem veio a tornar-se accionista foi o dirigente do BES Angola, Alvaro Sobrinho", diz Ana Gomes.
O facto de não ter sido feita "uma elementar 'due diligence 'para controlo dos investimentos estatais" em Portugal permitiu "este negócio numa das áreas fundamentais para a democracia". O recado estava dado.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: RLima@expresso.impresa.pt