E a meio do discurso de Ventura surgiu um esqueleto - candidatura fala em “boicote”
NUNO VEIGA/LUSA
Ao chegar ao Cineteatro de Serpa, onde iniciou a campanha para as presidenciais, o líder do Chega foi recebido por protestos de dezenas de pessoas, a maioria de etnia cigana e com cartazes antifascistas. “Vão trabalhar, trabalhar!”, limitou-se a gritar André Ventura, ladeado por seguranças. Depois aconteceu algo insólito durante o discurso no interior do Cineteatro
André Ventura falava este domingo em Serpa quando a cortina da boca de cena do Cineteatro da cidade alentejana se abriu e ficou visível um esqueleto atrás do candidato presidencial do Chega. Fonte oficial da candidatura disse à agência Lusa que se tratou de “um boicote”, uma vez que aquele espaço cultural é gerido pela autarquia, liderada pela CDU.
À entrada, dezenas de pessoas, a maioria de etnia cigana e com cartazes antifascistas, manifestavam-se contra a presença de Ventura em Serpa, antes do comício inaugural do período oficial de campanha. “Vão trabalhar, trabalhar!”, limitou-se a gritar André Ventura, ladeado por seguranças.
O distrito de Beja foi o “escolhido para ser o início da caminhada presidencial pela razão que temos insistido: há um país em que metade trabalha para outros não fazerem nada”, afirmou o líder do Chega, lamentando o que diz serem “privilégios e regalias injustificados nos últimos 45 anos”.
Descrevendo a sua corrida ao Palácio de Belém como “a maior ameaça ao sistema”, Ventura garantiu: “Não são ‘Grândolas’ cantadas lá fora por subsidiodependentes que nos vão fazer parar esta marcha”. “Perderam os debates todos e agora querem ganhar na rua”, acrescentou, referindo-se a “comunistas e socialistas”.
Ventura não poupou críticas ao atual chefe do Estado e recandidato, Marcelo Rebelo de Sousa, que “andou com o Governo ao colo”, e ao primeiro-ministro e líder do PS, pela falta de medidas de “apoio a quem precisa neste contexto de pandemia” e de grave crise económica.
“Estamos fartos de ser sempre os mesmos a pagar e a trabalhar”, disse ainda, sugerindo que muitos dos manifestantes tinham chegado à porta do Cineteatro de Serpa de “Mercedes e BMW ou em carrinhas do PCP”.
Na rua continuaram mais de 50 pessoas em protesto contra Ventura, com cartazes e palavras de ordem como “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” e buzinadelas. “Alentejo, terra da Liberdade”, “não queremos RSI (Rendimento Social de Inserção), mas trabalho”, “facho!” ou “Zeca, obrigaram-me a vir para a rua” foram algumas das inscrições nas tarjas e cartazes empunhados, vigiados por perto de duas dezenas de elementos da Guarda Nacional Republicana.