Calado há vários dias para não interferir na campanha eleitoral em curso para as legislativas antecipadas de 10 de março, o Presidente da República aceitou esta quarta-feira comentar o caso das buscas judiciais ao poder do PSD na Madeira (Câmara do Funchal e Governo Regional), no sentido de estancar o impacto deste processo na disputa eleitoral em curso. “Não deve ser misturado, não há risco nenhum de ser misturado”, afirmou, dizendo-se convicto de que “os portugueses percebem perfeitamente que não tem nada a ver uma coisa com a outra”.
A campanha será manchada? “Acho que não, acho que não!”, foi repetindo Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas à margem da e entrega do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. O Presidente está apostado em desdramatizar e tirar gás, quer à detenção do presidente da câmara do Funchal, quer às buscas realizadas pela PJ à casa e ao gabinete do presidente do Governo Regional, ambos do PSD e ambos próximos de Luis Montenegro.
“Tudo isto faz parte da democracia, não há intranquilidade, há estabilidade institucional, o Governo está em funções, eu recebo os diplomas, a atividade administrativa das entidades públicas prossegue e também o trabalho do Ministério Público e dos tribunais deve prosseguir”, afirmou Marcelo, visivelmente preocupado em evitar que mais este caso judicial envolvendo políticos dê lastro aos discursos populistas.
“A Justiça não tem calendários”, afirmou o Presidente, “a Justiça deve exercer a sua missão” e cada caso “surge quando surge, não tem que ver com razões políticas ou económicas", prosseguiu, num continuado esforço de retirar potencial incendiário a mais este caso em plena campanha eleitoral.
Marcelo lembrou, aliás, com um sorriso nos lábios, que estão para breve “decisões sobre figuras políticas do passado ” (nomeadamente a decisão do Tribunal da Relação sobre se José Sócrates vai a julgamento, prevista para esta quinta-feira à tarde). Mas também aqui disse que tudo isto “faz parte da lógica da democracia”.
Maior esforço para neutralizar o rombo que o caso Madeira veio provocar na agenda do PSD, precisamente no dia em que Luis Montenegro apresentou o quadro macroeconómico com que sustenta as suas propostas económicas e sociais, era difícil. Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
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