Marcelo Rebelo de Sousa diz que não viu a entrevista de António Costa à TVI e que tem por tradição não comentar o que diz o primeiro-ministro, mas tem uma certeza: “Quem decide é o povo.” Foi a resposta que deu quando questionado esta terça-feira sobre os cenários pós-eleitorais que se podem colocar.
Na entrevista, Costa voltou a dizer que o Presidente tomou a “decisão errada” ao dissolver o Parlamento e convocar eleições e acenou com um cenário de instabilidade ou mesmo de “barafunda” como o que considera ter acontecido nos Açores para onde Marcelo convocou também eleições antecipadas. “Quem decide é o povo”, relembrou Marcelo esta terça-feira, em declarações recolhidas pela RTP à margem de uma conferência sobre insuficiência cardíaca, na Faculdade de Ciências Médicas, em Lisboa.
Na segunda-feira, António Costa falou por duas vezes do Presidente, sempre num sentido crítico: primeiro em declarações à CNN, quando disse que estava “frustrado” com Marcelo por ter interrompido a legislatura; depois em entrevista à TVI/CNN à noite, quando disse que o PR tomou a decisão “errada” ao convocar eleições.
“Tenho o principio de nunca comentar as palavras do primeiro-ministro”, começou por dizer o Presidente, que completou esta terça-feira 75 anos e não tinha agenda pública. “O primeiro-ministro, várias vezes ao longo destes oito anos, disse as posições do Governo sobre o Presidente da República e eu entendi sempre que o Presidente da República não deve comentar o primeiro-ministro”, continuou Marcelo, que rematou como que antevendo mais comentários de António Costa: “Ele está em funções, vai estar ainda uns meses e, naturalmente, diz o que pensa, porque pensa e como pensa e o Presidente respeita o pensamento do primeiro-ministro, mas não comenta.”
Na mesma ocasião e, perante grande insistência da jornalista, Marcelo Rebelo de Sousa disse que não tinha tido conhecimento da coincidência de a Procuradoria-Geral da República ter aberto inquérito ao chamado caso das gémeas a 7 de novembro, que foi a data da demissão do primeiro-ministro e da divulgação de que Costa está a ser investigado.
Nas poucas declarações que fez na Faculdade de Ciências Médicas, o Presidente da República deixou ainda um conselho para o próximo Governo: entende que não deve haver recuo na reforma do Serviço Nacional de Saúde, com a criação da Direção Executiva do SNS. “Aquilo que o governo ainda em funções fez para separar o Ministério da Saúde do instituto que está a ser criado foi uma ideia que tem pés para andar, mas estamos a meio da ideia”, disse o Presidente, para quem “é preciso por de pé esse instituto, o que está a acontecer, e ver se se ajusta à realidade”.
Marcelo, que chegou a manifestar reservas à criação da Direção Executiva do SNS, entende agora que não se deve voltar atrás, qualquer que seja o resultado das eleições de 10 de março. “Se aquilo que foi visto como modelo vier a ser concretizado, acho que qualquer que seja a solução política do futuro, não é bom voltar atrás, voltar à estaca zero, começar de novo. Vale a pena é ver como é que se põe de pé essa realidade para dar resposta aos portugueses”, aconselha o Presidente a quem vier a governar depois de Costa.
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