Ao 15º dia, Marcelo Rebelo de Sousa quebrou o silêncio com que atravessou as duas semanas de acesa polémica sobre o processo judicial que derrubou o Governo, para dizer essencialmente duas coisas: tudo o que se ouça agora é jogo eleitoral; e a sua vez chegará após as eleições de 10 de março.
“Entrou-se num novo tempo”, foi a frase escolhida pelo Presidente da República para este regresso, em que elencou três fases: a dos partidos, que farão congressos, programas propostas e campanhas eleitorais; a “fase do povo, que é a do voto - e aqui, Marcelo aditivou a expetativa: ”vamos ver como é que o povo lê o que se passou nestes três meses, nestes 10, 12 dias, e como é que vota"; e por último a fase do Presidente.
“O tempo do Presidente é o tempo da formação do Governo”, afirmou, antecipando que o Presidente tentará “encontrar, no quadro escolhido pelo povo, o espaço e a fórmula que correspondam, na sua visão, aquilo que foi a intenção popular”.
A partir daí, Marcelo somou sucessivas negas a comentar o que quer que seja sobre o momento político atual, a começar pelas acusações que António Costa lhe dirigiu por ter decidido dissolver a Assembleia da República. “Cá está, este é um tempo em que o PR não comenta intervenções partidárias, não pode nem deve”, afirmou, remetendo indiretamente os comentários do primeiro-ministro sobre a sua decisão para o foro da campanha eleitoral.
Perguntas sobre a ida da Procuradora Geral da República a Belém, sobre quem sugeriu essa reunião, sobre sondagens ou sobre o Conselho de Estado, foram todas arrumadas por Marcelo com o mesmo selo - fazem parte “do debate eleitoral e pré-eleitoral”. E, insistiu, “estamos num tempo diferente. Houve um tempo anterior mas esse está concluido”. Assim Marcelo remeteu o tempo da sua coabitação com António Costa a um capítulo arrumado.
O decreto de exoneração do atual Governo será assinado pelo Presidente "nos primeiros dias de dezembro, quando o Governo passará a estar apenas em gestão.
Questionado sobre o caso das gémeas brasileiras que conseguiram um tratamento de 4 milhões de euros no Hospital de Santa Maria, caso que está envolvido em suspeitas de favorecimento por a mãe das crianças ser amiga da nora de Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente respondeu, embora também sem entrar em pormenores.
“Foi aberto, e bem, um inquérito. Acho bem, disse a 4 de novembro que era importante o esclarecimento e estou satisfeito”. Sobre se já se lembrava do seu filho lhe ter falado do caso, Marcelo recusou entrar em detalhes: “Estando a correr um inquérito, não me pronuncio, como não me pronunciou sobre nennhum processo e há vários”, afirmou.
Questionado sobre se está tranquilo, o Presidente respondeu: “Já estava tranquilo e continuo tranquilo”.
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