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Raimundo desafia Moedas a ser coerente com declarações passadas: "Pela boca morre o peixe"

Raimundo desafia Moedas a ser coerente com declarações passadas: "Pela boca morre o peixe"
MIGUEL A. LOPES

Líder comunista abriu Festa do "Avante" que vai discutir "muita coisa da vida das pessoas", incluindo "a questão das infraestruturas e das respostas que o Estado devia dar e não dá". E acusou PS e Chega de andarem "às cotoveladas" para ver quem é parceiro do Governo no Orçamento

O secretário-geral do PCP perguntou esta sexta-feira ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, se considera que tem condições para continuar no cargo, desafiando-o a ser coerente com declarações que fez no passado. Em declarações no arranque da Festa do "Avante", na Quinta da Atalaia, Seixal, Paulo Raimundo defendeu que é preciso que "rapidamente se esclareça" porquê e como é que aconteceu o descarrilamento do Elevador da Glória, na quarta-feira, para, depois, "se apurarem responsabilidades técnicas e políticas".

Questionado se defende a demissão de Carlos Moedas, Paulo Raimundo respondeu que "pela boca morre o peixe", aludindo a declarações do atual presidente da Câmara de Lisboa em 2021, após a polémica do chamado "Russiagate", quando pediu a demissão do então autarca Fernando Medina, considerando que era necessário "um novo tipo de políticos, os que assumiam as suas responsabilidades, mesmo perante um erro técnico".

Lamentando que a coerência não seja "propriamente, hoje, uma grande virtude de muita gente", Paulo Raimundo defendeu, contudo, que "há que ser coerente". "E essa é uma pergunta [da demissão de Carlos Moedas] que me faz com toda a justiça e eu devolvo a Carlos Moedas, ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa: se ele acha mesmo que, face àquilo que afirmou em outros momentos, por um lado, e face às responsabilidades que tem, se ele acha que tem condições para continuar com as responsabilidades que tem?", questionou.

O secretário-geral do PCP abordou ainda as autárquicas de 12 de outubro para salientar que, nessas eleições, os lisboetas terão a ocasião de "demonstrarem essa condenação de opções políticas que não são só das responsabilidades do PSD, mas também são PS".

Interrogado se o PCP não teme repercussões nas autárquicas ao ter optado por não cancelar a Festa do "Avante" devido ao descarrilamento do Elevador da Glória, Paulo Raimundo disse que o certame comunista vai discutir "muita coisa da vida das pessoas", incluindo "a questão das infraestruturas e das respostas que o Estado devia dar e não dá".

"Se nós quiséssemos ser demagogos, hipócritas, então se calhar teríamos tido a atitude que outros tiveram. Ora, nós não somos nem demagogos, nem hipócritas, a vida aqui está a correr para criar as condições também para que acidentes como aqueles que ocorreram na quarta-feira não voltem a acontecer", disse.

Paulo Raimundo considerou ainda ser curioso que, a caminho da Quinta da Atalaia, tenha ouvido "vários dirigentes partidários" a falar na rádio. "E eu pensei para mim: 'então mas não iam suspender toda a atividade partidária?'. Pronto, fica a incógnita", afirmou.


"Cotoveladas" orçamentais

O secretário-geral do PCP acusou PS e Chega de “andarem às cotoveladas” para ver quem é “mais cúmplice” do Governo no Orçamento do Estado, considerando que o primeiro-ministro tem “razões para estar descansado”, mas o povo não.

Questionado sobre as declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que considerou que o próximo Orçamento do Estado vai ser “relativamente simples”, o secretário-geral do PCP considerou que o primeiro-ministro fala de “costas largas” devido à atitude do Chega e PS perante uma proposta que, apesar de ainda não se conhecida, Paulo Raimundo disse saber que servirá para “acelerar a política que está em curso”.

“O mais extraordinário é nós vermos, assistirmos, na praça pública, às cotoveladas entre o PS e o Chega para ver quem é que ainda é mais cúmplice e qual é que é o par da noiva no Orçamento do Estado”, acusou.

Para Paulo Raimundo, o primeiro-ministro, “que assiste a isto na praça pública, às cotoveladas para ver quem é que se chega primeiro à frente, é claro que está descansado e tem razões para estar descansado”.

Quem não tem razões para estar descansado são vocês, somos nós, são aqueles que trabalham, que põem o país a funcionar, os reformados, os jovens em particular. Esses não têm razão nenhuma para estarem descansados”, sustentou, prevendo que o próximo Orçamento do Estado vai servir para “continuar o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

“É um orçamento para continuar a apertar as pensões e os salários. É um orçamento para continuar a transferir recursos para os grandes grupos económicos, desde logo pela descida do IRC. É um orçamento que tem, na sua conceção, o pacote laboral para mais precariedade, mais aperto nos salários, mais regulação das horas, mais facilidade nos despedimentos”, avisou.

Nestas declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo foi ainda questionado sobre as declarações do reitor da Universidade do Porto, que disse ao Expresso ter sido pressionado para abrir mais vagas no curso de Medicina por “pessoas influentes”, acusação que o ministro da Educação refuta.

Zangam-se as comadres”, respondeu Paulo Raimundo, salientando que essa é uma matéria que precisa ser clarificada, mas não adiantando se o PCP tenciona pedir uma audição sobre o assunto, à semelhança do que fez PS e IL. “Há partidos que pedem tudo e um par de botas, sabemos isso. Eu não quero desvalorizar isso, sinceramente, nem quero minimizar isso, nós próprios já falámos sobre essa matéria. Agora, pronto, zangam-se as comadres”, reforçou.

Sobre a prioridade do PCP para os próximos meses, Paulo Raimundo disse não querer antecipar o discurso que fará no comício de encerramento da Festa do Avante, mas frisou que o partido vai procurar “salvar o SNS” e propor respostas para a habitação, trabalho, salários, pensões e direitos das crianças.

“E o combate feroz, determinado e para ganhar, ao pacote laboral. São matérias que estarão naturalmente presentes no embate que vamos ter pela frente”, assegurou.

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