Governo dos Açores em risco: Iniciativa Liberal e deputado independente rompem acordos
EDUARDO COSTA/LUSA
Anúncio foi feito na Assembleia Legislativa Regional pelo deputado liberal e acontece dois dias depois de Rui Rocha ter estado com Nuno Barata, nos Açores. O novo líder dos liberais foi inequívoco durante a campanha interna, garantindo que “não teria feito o acordo” com o PSD
O deputado da Iniciativa Liberal (IL) no parlamento dos Açores, Nuno Barata, rompeu o acordo de incidência parlamentar feito com os sociais-democratas para apoio ao Governo Regional de coligação, que junta PSD, CDS-PP e o PPM. O anúncio foi feito pelo próprio esta quarta-feira durante o plenário da Assembleia Legislativa, na cidade da Horta (ilha do Faial), e acontece dois dias depois de o novo presidente da IL ter estado com o deputado regional nos Açores, após ter criticado o acordo durante a campanha interna. Entretanto, também o deputado independente Carlos Furtado (ex-Chega) anunciou que rompe acordo.
José Manuel Bolieiro, presidente do Governo Regional dos Açores
"A partir de hoje, depois de todos os esforços que fizemos para que esse acordo pudesse ser levado até ao fim, vemo-nos obrigados a dizer aos açorianos que a IL comunicará ao representante da República que se liberta do acordo de incidência parlamentar que assinou com o PSD", declarou Nuno Barata, lamentando que o PSD não tenha cumprido um “frugal acordo” e não apresente “soluções” para os problemas dos Açores.
O deputado justificou a decisão com a "força que os parceiros do PSD na coligação de governo fazem todos os dias para que nada mude e pela incapacidade deste PSD em promover a devida estabilidade junto dos seus parceiros de coligação".
Elencando os dez pontos que constituíam o acordo de incidência parlamentar com o PSD, Nuno Barata traçou um balanço negativo de todas as áreas, afirmando que o objetivo principal da IL era “chegar ao fim do mandato e ter menos pobres nos Açores”.
“Menos despesa pública, menos divida para as gerações futuras (até porque divida é igual a pobreza), menos empresas públicas esbanjadoras, mais jovens e empreendedores capazes de concretizar os seus sonhos e projetos, promovendo as suas ilhas, sem terem que continuar de mão estendida ao governo – entidade omnipresente na vida dos Açorianos e um dos seus maiores e mais austeros carcereiros”, vincou o deputado liberal.
Garantindo que a IL “tudo fez” para que o acordo fosse cumprido, Nuno Barata acusou o PSD de o não ter sabido “honrar”. “É uma renúncia unilateral por incumprimento da outra parte. Não estamos disponíveis para continuar a ser conotados com as vossas decisões erradas e comportamentos erráticos, nem para sermos acusados, pelos Açorianos, de viabilizarmos uma governação que se tem desdobrado em trapalhadas atrás de trapalhadas”, reforçou.
Crítico do acordo nos Açores, Rui Rocha deslocou-se ao arquipélago no domingo para visitar as ilhas do Faial e do Pico, no âmbito das ‘Rotas Liberais’. No final, o líder liberal considerou que a região é “cheia de oportunidades” e que Nuno Barata tem “feito a diferença” no parlamento regional. “Conheci a garra dos produtores vinícolas, o trabalho dos investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e o espírito de iniciativa dos empresários turísticos. O liberalismo tem de continuar a crescer”, escreveu nas redes sociais.
Recorde-se que durante a campanha interna, Rocha teceu críticas ao acordo nos Açores, garantindo que “não o teria feito” e que o não o repetirá no futuro, em entrevista à rádio Observador. E já antes tinha convidado Nuno Barata para integrar a sua lista à comissão executiva (direção).
PSD, CDS-PP e PPM, que juntos representam 26 deputados, assinaram um acordo de governação. A coligação assinou ainda um acordo de incidência parlamentar com o Chega e com o deputado independente Carlos Furtado (ex-Chega) e o PSD um acordo com a IL. Com o rasgar do acordo da IL, os partidos da coligação e os apoios parlamentares representam, agora, 28 deputados, os mesmos do que a soma dos do PS (25), o BE (dois) e o PAN (um).
A Assembleia Legislativa dos Açores é composta por 57 deputados e, na atual legislatura, 25 são do PS, 21 do PSD, três do CDS-PP, dois do PPM, dois do BE, um da Iniciativa Liberal, um do PAN, um do Chega e um deputado é independente (eleito pelo Chega).