Montenegro quebra esta terça-feira silêncio quase total que manteve desde a noite eleitoral
Luís Montenegro apresenta governo ao Presidente da República. Foto Ana Baião
Ana Baiao
O novo primeiro-ministro faz o primeiro discurso oficial esta terça e quebra silêncio público quase total que mantém desde as eleições. Até agora, só falou em “estabilidade” e registou “com satisfação” palavras de Pedro Nuno Santos
Quer governar com “base na maioria” e na “confiança” que os eleitores lhe deram e não teme uma eventual “instabilidade” governativa. Três semanas depois de ser eleito, quase duas depois de ser indigitado primeiro-ministro, Luís Montenegro pouco mais adiantou do que estas duas ideias. Esta terça-feira, no Palácio de Ajuda, terá de ir mais longe sobre o futuro e sobre o desafio de governar com uma maioria apertada e com embates como o que teve logo na eleição do presidente da Assembleia da República.
As exceções ao silêncio do presidente do PSD deram-se à saída das duas audiências em Belém e da deslocação a Bruxelas, no dia seguinte a ser indigitado, já depois da meia-noite, por Marcelo Rebelo de Sousa.
“Transmiti ao Presidente da República que a nossa motivação é a mesma da campanha eleitoral: estamos focados nos problemas dos portugueses, na vida de cada cidadão que vive e trabalha em Portugal, respeitando a vontade do povo português de promover uma mudança de Governo, de primeiro-ministro e de políticas em Portugal”, afirmou então Montenegro.
O Presidente da República vai agora dar posse ao XXIV Governo Constitucional, numa cerimónia marcada para as 18h, no Palácio da Ajuda, menos de um mês depois das legislativas de 10 de março.
Desde essa noite, Luís Montenegro não respondeu a perguntas sobre os desafios de governar com uma curta maioria parlamentar (80 deputados PSD/CDS contra 78 do PS e com uma bancada de 50 parlamentares do Chega).
Sobre a disponibilidade manifestada pelo secretário-geral do PS para viabilizar um eventual Orçamento Retificativo, Montenegro apenas disse ter registado "com satisfação o sentido de responsabilidade" de Pedro Nuno Santos.
No dia 21 de março, em Bruxelas, já como primeiro-ministro indigitado, disse à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que “não há nenhuma razão para colocar em causa a estabilidade do país” ou “a estabilidade de uma solução de Governo, que, embora não disponha de maioria absoluta na Assembleia da República, dispõe da confiança dos eleitores”.
Nessa ocasião, prometeu ainda rapidez na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para “recuperar atrasos” - que foram desmentidos pelo Governo de António Costa.
Desde essa data, apenas pelas redes sociais Luís Montenegro deu nota da reunião com o primeiro-ministro em funções, António Costa, para “passagem de testemunho que abrirá um novo ciclo em Portugal”, na passada quarta-feira, ou da apresentação ao Presidente da República do elenco de ministros, na quinta-feira.
Foi também por comunicado que PSD e IL informaram, no dia 26 de março, que não avançariam “nesta altura para a celebração de entendimentos alargados”, incluindo a formação do novo Governo.
Durante os quase dois dias que durou a primeira sessão plenária da XVI legislatura, Montenegro não fez qualquer declaração aos jornalistas, nem mesmo após o encontro com o secretário-geral do PS que acabaria por desbloquear o impasse na eleição do candidato indicado pelo PSD para presidente da Assembleia da República, o antigo ministro da Defesa José Pedro Aguiar-Branco.
No discurso da posse, que se seguirá ao do Presidente da República na terça-feira, é de esperar que Luís Montenegro possa abordar os principais desafios do seu executivo em matéria de governabilidade e as prioridades que apontou durante a campanha e logo na noite eleitoral.
Sobre o programa da AD, o presidente do PSD repetiu, na eleitoral, alguns dos principais compromissos da coligação: “diminuir a carga fiscal” e colocar a economia portuguesa a “crescer mais”; “implementar um programa de emergência na área da saúde nos primeiros 60 dias do Governo”; “dar estabilidade à escola pública”, com “mais exigência e qualidade”; travar o aumento de preços na habitação e melhorar o acesso com “mais oferta, do lado público e do lado privado”; “dar às forças de segurança melhores condições de trabalho e de remuneração”, defendendo que “é possível mudar o sistema de justiça e combater de forma mais eficaz a corrupção”.