Costa elogia Marcelo e Santos Silva e critica "excesso de atenção" dada ao Chega
Nos jardins de S. Bento, o primeiro-ministro lembrou que o Governo depende do Parlamento e disse que discurso do PR foi “pedagógico”
Nos jardins de S. Bento, o primeiro-ministro lembrou que o Governo depende do Parlamento e disse que discurso do PR foi “pedagógico”
O dia 25 de Abril foi, na opinião do primeiro-ministro, marcado por “quatro notáveis discursos”, sendo dois deles de Augusto Santos Silva, o presidente do Parlamento, que discursou na receção parlamentar ao Presidente brasileiro e, depois, na sessão comemorativa da Revolução de 1974. os outros dois “notáveis discursos” são de Lula da Silva e do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.
"O discurso do Presidente da República foi muito pedagógico, porque demonstrou que uma pessoa da direita democrática, do centro-direita, não se tem que deixar condicionar, limitar, nem na atitude, nem nas palavras, nem no vocabulário, nem no discurso, por aquilo que é o ruidismo gerado pelo Chega. Demonstrou bem que, felizmente em Portugal, temos não só uma esquerda democrática, como temos uma direita democrática que preenchem a esmagadora maioria do espaço político nacional", comentou António Costa, ao fim da tarde.
Costa falava na sua residência oficial, depois de ter inaugurado juntamente com o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, nos jardins do Palacete de São Bento, uma escultura de Rui Chaves, intitulada "Semente".
Ainda que só tenha detalhado o elogio ao “discurso pedagógico” de Marcelo, o primeiro-ministro já tinha aproveitado para salientar que o Governo depende do Parlamento. No seu breve discurso, o líder do executivo salientou que "os verdadeiros detentores do poder são os cidadãos" e citou o discurso hoje proferido pelo Presidente da República na sessão solene do 25 de Abril no parlamento.
"Como disse hoje o nosso Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa] são os cidadãos que escolhem o 25 de Abril que em cada momento querem prosseguir. E é assim que devemos prosseguir para manter viva e renovar a nossa democracia", defendeu.
Para António Costa, o Chega "é mesmo uma exceção", e "um dos piores perigos que existe para o futuro da democracia é o excesso de representação mediática e o excesso de atenção de quem não tem essa representação popular". Confrontado pelos jornalistas com a acusação feita pelos partidos da oposição de que é o próprio Governo a insuflar o Chega, o primeiro.ministro respondeu: "Eu não tenho nenhum canal de televisão, não tenho nenhuma rádio ou jornal. Quem lhes dá visibilidade? São as televisões, as rádios, os jornais ou é o primeiro-ministro? Os senhores é que lhes dão visibilidade", concluiu.
António Costa disse que nos próximos dias estas suas palavras deverão ser seguramente criticadas no espaço mediático, mas repetiu as críticas. "Vão entreter-se a bater-me nos próximos dias. Mas dão-lhes mesmo uma atenção desproporcionada àquilo que eles [Chega] representam na nossa vida coletiva", insistiu em nova referência à comunicação social.
Num comentário sobre os protestos do Chega em relação à presença do Presidente do Brasil na Assembleia da República, o primeiro-ministro lamentou a existência "de uma ultra minoria que precisou de fazer barulho para suplantar em ruído a falta de representação popular que efetivamente tem". "A representação parlamentar não resulta do barulho que se faz ao bater na mesa, resulta dos votos. O Chega não é regra e felizmente é só exceção", no panorama político nacional, sustentou.
António Costa recusou a ideia de que o Chega, na sessão de boas-vindas ao Presidente do Brasil, tenha tido um ato falhado, contrapondo que "o Chega foi o que o Chega é".
"Demonstrou que não tem respeito pelas instituições, não se sabe comportar civilizadamente à mesa da democracia e não sabe respeitar a nossa História e a nossa relação com os nossos povos irmãos. Quem é patriota sabe que uma das maiores riquezas que Portugal tem é a sua língua -- uma língua que deixou de ser a dos nossos 15 milhões de portugueses que vivem no país e fora do país, mas que, designadamente, graças ao Brasil, é a quinta mais falada no mundo", assinalou.
Para o primeiro-ministro, "qualquer patriota português deve perceber que o Brasil é mesmo o nosso irmão mais velho -- irmão que temos de acarinhar, respeitar e agradecer a parceria que tem connosco há 200 anos". "Temos mesmo uma relação muito especial com o Brasil e quem não compreende isto pode invocar tudo menos o seu amor a Portugal e o seu patriotismo", acrescentou.
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