19 janeiro 2023 23:00

andrej cukic
Na primeira semana de obras, o ex-ministro da Defesa recebeu um ofício da direção-geral a descrever os “trabalhos adicionais” pedidos pelo Exército que mais do que duplicavam os custos: de €750 mil para €1,7 milhões. O valor final havia de chegar aos €3,2 milhões.
19 janeiro 2023 23:00
O ex-ministro da Defesa e atual ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, foi informado logo em março de 2020 de que os custos das obras no antigo Hospital Militar de Belém (HMB) estavam a derrapar. O governante tem sido definitivo em negar que conhecia a derrapagem de mais de €2 milhões, recusando que tivesse autorizado uma despesa cujo limite era de €750 mil e que acabou por chegar aos €3,2 milhões. Mas o Expresso teve acesso a um ofício (nº 486) de 27 de março de 2020, com as obras a decorrer há uma semana, em que Alberto Coelho, então diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN) — hoje arguido por corrupção e branqueamento na Operação Tempestade Perfeita —, informava o ministro sobre “trabalhos adicionais” que já somavam quase um milhão de euros extra. Ou seja, nesse documento já era explícito que a obra mais do que duplicara de valor.
Quando foi ao Parlamento para um debate de urgência no dia 20 de dezembro — na sequência da operação judicial que constituiu arguidos por corrupção três altos funcionários da DGRDN —, João Gomes Cravinho foi muito claro: disse que “não” autorizou nem lhe foi solicitado “que autorizasse” a despesa que resultou na mais do que triplicação do valor orçamentado para transformar o antigo hospital num Centro de Apoio Militar para doentes ligeiros com covid-19. E afirmou que foi sempre “prudente” e “proativo”: “Em cada momento, com a informação que tinha, fiz exatamente o que devia fazer.” Mas Cravinho, que vai em breve à Comissão Parlamentar de Defesa, chamado pelo PSD sobre este tema, tinha informação sobre o começo da derrapagem quando as obras ainda estavam no início. E, se não as autorizou, também não as travou.