Apesar de um mês de contestação dos agricultores nas ruas, tanto em Portugal como noutros países europeus, a agricultura está fora do debate político, por uma razão muito simples: “Não dá votos”, sustenta José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) e coordenador do Observatório da Agricultura da SEDES.
E, no entanto, “estamos perante um sector que representa cerca de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), 5% se somarmos a agroindústria e a floresta, e emprega 6% da população ativa em Portugal” enfatiza Pedro Santos, diretor-geral da consultora agrícola Consulai.
Falta ‘peso político’ ao sector
Ambos concordam, porém, que falta ‘peso político’ ao sector, mas Pedro Santos diz que do que já leu nos programas eleitorais dos vários partidos, conclui que “seja quem for que vier a formar governo, a agricultura terá sempre um peso superior ao que tem atualmente”.
À dimensão europeia, José Palha nota que a Política Agrícola Comum (PAC) foi demasiado ambiciosa num curto espaço de tempo, no que respeita às questões ambientais: “A União Europeia quis implementar práticas mais amigas do ambiente, num curto espaço de tempo, mas isso acabou por ter impacto na produtividade, comprometendo-a”, e os agricultores sentiram-se “asfixiados”. Por isso vieram para a rua manifestar a sua indignação.
A PAC é uma espécie de ‘cola’ da UE
Pedro Santos diz que “a Europa acredita que as suas práticas [ambientais na agricultura] podem influenciar agentes económicos noutros continentes, mas está a esquecer-se dos agricultores europeus”, e a PAC, que, segundo aquele responsável, “foi criada para produzir alimentos, neste momento é uma mescla de ambiente, economia e questões sociais e, entretanto, os agricultores têm rendimentos médios de 70%, face à média verificada noutros sectores”.
E, no entanto, a PAC, segundo Pedro Santos, “é uma espécie de ‘cola’ da União Europeia, e permite às pessoas não passarem fome”. E isso não se pode esquecer.
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