Política

Entre jovens, Montenegro ganha a Pedro Nuno mas só tira positiva à rasquinha: as notas de um debate sem espaço para cultura ou ambiente

Entre jovens, Montenegro ganha a Pedro Nuno mas só tira positiva à rasquinha: as notas de um debate sem espaço para cultura ou ambiente

O Expresso seguiu o debate com cinco comentadores sub-35 selecionados pelo Coletivo Matéria, plataforma que quer ser “a caixa de entrada de ideias dos jovens para melhorar o país”. Foi no limiar mínimo para a aprovação, 5 em 10 valores, que colocaram Luís Montenegro. Pedro Nuno chumbou no veredito do painel

Entre jovens, Montenegro ganha a Pedro Nuno mas só tira positiva à rasquinha: as notas de um debate sem espaço para cultura ou ambiente

Pedro Miguel Coelho

Jornalista e coordenador das redes sociais do Expresso

Entre jovens, Montenegro ganha a Pedro Nuno mas só tira positiva à rasquinha: as notas de um debate sem espaço para cultura ou ambiente

Tiago Pereira Santos

Coordenador de Arte Digital e Vídeo

Pedro Nuno Santos debateu com Luís Montenegro – e o debate foi acompanhado atentamente por um grupo de jovens selecionados pelo Coletivo Matéria, uma plataforma de mobilização dos sub-35. Nas palavras deles encontramos descrita uma discussão vazia, com poucas soluções claras para os problemas dos portugueses, em particular dos mais jovens.

A ausência da cultura, do ambiente e da representação de minorias são muito referidas, numa média de pontuações que foi de 5 para Luís Montenegro e 4,25 para Pedro Nuno Santos. No centrão, a desilusão? Veja as notas e os comentários de Catarina Barreiros, Guadalupe Amaro, Inês Ayer, Pedro Lopes e Tiago Fortuna (que preferiu não classificar os concorrentes).

Catarina Barreiros

Pedro Nuno Santos – 3
Luís Montenegro – 4

“Não é verdade”, “É sim”, “Está a mentir” e “Não estou não” – as frases mais ouvidas do debate de hoje, que mostrou que não haverá hipótese de estabilidade com governos minoritários (aliás, Pedro Nuno Santos disse que não via como o PS pudesse vir a aprovar um Orçamento de Estado da AD).

Falou-se de habitação, economia e saúde. Deixou-se (mais uma vez) de lado o Ambiente, tendo sido apenas referido, por Luís Montenegro, ao explicar que a transição climática e energética será uma das áreas transversais e relevantes que merecerá reunião mensal de um conselho de Ministros.

Quem ganhou o debate, foi a intérprete de língua gestual portuguesa que, numa tarefa hercúlea de traduzir, sozinha, uma série de atropelamentos de fala, não desistiu e pensou nos portugueses que necessitam do seu trabalho para a compreensão do debate. Proponho, para a próxima, para além de duas intérpretes (de LGP), haja uma terceira, que traduza para português, o demagoguês a que assistimos.

Catarina Barreiros é fundadora do Projeto Do Zero, co-fundadora do Zeroo Smart Packaging Solutions e da Norm.

Guadalupe Amaro

Pedro Nuno Santos – 4
Luís Montenegro – 3

Os candidatos do PS e da AD conseguiram a proeza de, simultaneamente, beneficiarem de mais do dobro do tempo dos restantes debates e apresentarem poucas ou nenhumas respostas para as necessidades do país. Pedro Nuno Santos teve a primeira prestação que se aproximou das expetativas que lhe eram depositadas, enquanto Luís Montenegro manteve uma prestação acima do pouco que de si era esperado, acabando por se encontrarem ambos na mediocridade.

Ambos dizem que promessas irrealistas não passarão disso mesmo e culpam-se de não terem, enquanto representantes dos partidos do poder, trabalhado para a resolução dos problemas que agora prometem resolver. Ambos estão corretos. Quem decidir o seu voto com base neste debate, fá-lo-á por fé e não por pelas medidas concretas que cada candidato defende, pois continuarão sem saber quais são.

Guadalupe Amaro, ativista política, cronista e médica-veterinária

Inês Ayer

Pedro Nuno Santos – 5
Luís Montenegro – 7

Se por um lado temos como mensagem final Pedro Nuno Santos, que diz estar disposto a trabalhar em conjunto e que se auto congratula pelas medidas que levaram a formar a geração mais qualificada de sempre, por outro, Montenegro promete o redesenho de um país no qual os jovens podem viver com a ambição de alavancar o crescimento económico e políticas sociais. Será tudo isto tangível?

Por entre os habituais atropelamentos e fuga a questões essenciais, continuamos com um debate oco que pouco informa os portugueses. Não basta a liberalização dos setores e a diminuição dos impostos que a AD propõe, é preciso haver uma negociação que faça convergir pensamentos com o PS nos eixos principais de governabilidade para que: na Saúde o SNS seja reformado, na Educação exista uma valorização do ensino público gratuito qualificado, na Habitação se promovam sinergias público-privadas e no Estado Social se garanta uma prosperidade económica sustentável. Neste debate foi novamente omitido o papel do setor da Cultura, da qual não nos podemos esquecer. Porque um país sem cultura é um país que fica parado no tempo.

Inês Ayer nasceu em São Miguel, nos Açores. É designer, focada na resolução de problemas dando ênfase às áreas da cultura, inovação, justiça social e alterações climáticas. Atualmente reside em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde trabalha como Senior Designer na Pentagram, gere o Studio Ayer e desenvolve o projeto Aliquoti.

Pedro Lopes

Pedro Nuno Santos – 5
Luís Montenegro – 6

Assistimos a um debate de mais de uma hora em que reinou o caos e o ataque mútuo. Vimos um Pedro Nuno Santos mais agressivo numa fase inicial e a sair por cima, algo que se foi invertendo até ao final do debate.

Como jovem empresário do interior, senti uma falta de ideias construtivas e que me pudessem representar e vi um pisar constante por parte de ambos os líderes, sem espaço para grande desenvolvimento de ideias em temas fraturantes. Gostava de ter visto algum debate produtivo sobre as microempresas e as PMEs, que são a alavanca do país. Gostava de ter percebido a opinião tanto de Pedro Nuno Santos como de Luis Montenegro sobre o que é a classe média e como veem o aproximar do ordenado mínimo e médio, qual o impacto e o que pretendem fazer em relação a esse tema.

Senti que foi importante referir os jovens com palavras soltas e chavões mas sem medidas efetivas para os fixar e ter uma visão optimista do país.

Pedro Lopes é o CEO e fundador da Infinitebook (uma startup que criou com 17 anos), TEDx Speaker e mentor. Nascido em Viseu, define-se como um eterno apaixonado por ideias e inovação.

Tiago Fortuna

O debate cobriu os temas centrais: polícia, habitação, impostos, salários, educação, saúde e pensionistas. Falou em maiorias sem mencionar minorias. Fala-se no centro, esquecendo a margem. A margem sempre alimentou o centro - é o núcleo do desenvolvimento político. Os temas foram abordados sem falar em migrantes, pessoas negras, com deficiência ou a igualdade de género. Tivemos uma breve referência a medidas na educação para alunos com necessidades específicas de Pedro Nuno Santos. Também não se falou em cultura, o tema nem foi invocado pelos moderadores. Um país que não menciona a cultura esquece a sua identidade e dificilmente conseguirá estimular a prosperidade social e económica.
Não pontuo o debate porque parece-me redutor para a complexidade da decisão que temos em mãos. Sugiro outra solução rápida: abrir os programas dos vários partidos e fazer uma pesquisa pelas palavras e assuntos que nos preocupam. Depois, então, pontuar candidatos.
Tiago Fortuna é co-fundador da Access Lab, trabalhou em assessoria de imprensa e é licenciado em Ciências da Comunicação pela NOVA FCSH. Também é uma pessoa com deficiência.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pmcoelho@expresso.impresa.pt

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