Legislativas 2024

Televisões não aceitam troca de Montenegro por Melo em dois debates. PCP diz que era “inaceitável”, Livre fala em “cobardia”

Televisões não aceitam troca de Montenegro por Melo em dois debates. PCP diz que era “inaceitável”, Livre fala em “cobardia”
TIAGO PETINGA

As televisões já manifestaram a recusa da proposta feita pela direção de campanha da AD, sublinhando que os moldes dos debates foram aceites e não podem permitir essas exceções. Mas a coligação insiste em Nuno Melo

Televisões não aceitam troca de Montenegro por Melo em dois debates. PCP diz que era “inaceitável”, Livre fala em “cobardia”

Liliana Coelho

Jornalista

A Aliança Democrática (AD) queria substituir Luís Montenegro por Nuno Melo em dois debates televisivos, no âmbito das legislativas. Em causa estavam o frente a frente no próximo sábado previsto entre Montenegro e Paulo Raimundo na RTP, e o duelo entre o líder do PSD e Rui Tavares, no próximo dia 17, na TVI, com a AD a propor a substituição do presidente social-democrata pelo líder centrista, o segundo maior partido da coligação. Nem o PCP nem o Livre concordam e nem as televisões aceitaram.

Como o Expresso noticiou, Montenegro estará no próximo sábado num comício do PSD em Penafiel, sendo Melo o escolhido para debater na mesma noite com o comunista Paulo Raimundo na estação pública. O mesmo deveria acontecer no duelo com Tavares. Os sociais-democratas consideram que a substituição dos protagonistas é natural e já aconteceu no passado, contudo, na altura a proposta foi que fosse Paulo Portas, mas na altura o CDS tinha representação parlamentar, o que não acontece agora.

Os comunistas não aceitam essa proposta dos sociais-democratas: “O PSD quer fugir ao debate, o que é inaceitável”, afirma ao Expresso fonte oficial do PCP, admitindo que se estiver em causa uma questão de agenda, os dois partidos e televisões podem reagendar o frente-a-frente.

Em comunicado, entretanto divulgado, os comunistas acusaram Luís Montenegro de querer “fugir do debate com Paulo Raimundo sobre a situação do país, as soluções e respostas para os problemas” nacionais. "Depois de acordado um modelo de debates entre as televisões e os partidos com representação parlamentar, o PSD e o seu presidente querem agora esconder-se e esconder o seu projecto atrás de pretextos", acusa o gabinete de imprensa do PCP em comunicado.

Segundo o PCP, o presidente dos sociais-democratas quer fugir a questões e temas relacionados com "a política salarial, valorização das pensões, direitos dos trabalhadores, direito à habitação, defesa e valorização do Serviço Nacional de Saúde (SNS), cruciais para a esquerda.

“Não facilitaremos esta intenção. Os debates foram organizados sobre determinados pressupostos. Independentemente da avaliação crítica sobre o modelo, notoriamente favorecedor de uns face a outros, esta intenção do presidente do PSD agrava esta realidade. Não será por parte do PCP e da CDU que esse momento clarificador de debate não se realizará”, acrescentou.

Também Rui Tavares, co-porta-voz do Livre e cabeça de lista do partido por Lisboa, mostra-se contra a eventual substituição de Montenegro por Melo no debate previsto entre o PSD e o Livre. “Será uma grande descortesia, a confirmar-se, e principalmente uma falta de respeito para com os eleitores”, diz ao Expresso.

Tavares lamenta que o PSD coloque em cima da mesa a alteração dos pressupostos previamente acordados entre partidos e estações televisivas para os debates, abrindo a porta a um tratamento de “forma desigual" entre forças políticas. “Creio que o gesto de Luís Montenegro será interpretado mesmo como uma grande cobardia”.

Em resposta, a AD garante que a coligação e o seu líder “não têm medo de debater com ninguém”, razão pela qual não recusaram participar em nenhum dos debates da televisão e da rádio. “Tal como acertado desde a primeira conversa com o representante dos canais de televisão, a coligação AD faz-se representar em todos os debates pelo presidente do PSD, com exceção daqueles que opõem a AD ao Livre a à CDU, onde a representação da coligação Aliança Democrática ficará a cargo do presidente do CDS, à semelhança do que aconteceu em 2015”, insiste o diretor de campanha Nacional da AD, Pedro Esteves.

Direções de informação querem garantir “condições de equidade”

Ao que o Expresso apurou, as televisões já manifestaram ao PSD a recusa da proposta feita pela direção e invocaram as razões, sublinhando que não podem aceitar essas exceções, o que fará com que tenha de ser mesmo Luís Montenegro a debater quer com Paulo Raimundo quer com Rui Tavares. Em comunicado, admitem que foi com alguma surpresa” que receberam a proposta da Direção de Campanha da AD, visto que em dezembro foi manifestada essa intenção, mas num email seguinte das TVs os moldes dos debates ficaram “perfeitamente explícitos, reforçados e aceites".

Não pomos em causa as motivações da AD nem as qualidades do líder do CDS, mas não podemos colocar em risco todo este processo. Recordamos que este modelo foi seguido com êxito desde 2019 em três eleições. A aceitar-se esta exceção, desvirtuar-se-iam o modelo e as condições de equidade propostas a todos, o que não é aceitável e justo”, pode ler-se num comunicado, entretanto divulgado, assinado pelos diretores de informação das três estações, António José Teixeira, diretor de Informação da RTP; Nuno Santos, diretor de Informação da TVI/CNN e Ricardo Costa, diretor de Informação da SIC.

O facto de só estarem presentes nestes debates os líderes dos partidos com assento parlamentar, sublinham, "não decorre apenas de um evidente critério editorial. Decorre também de uma aceitação por parte da CNE e da ERC deste modelo, as duas entidades têm aceitado uma solução que privilegie os partidos com assento parlamentar, desde que os debates decorram antes do início oficial da campanha eleitoral”.

As direções de informação garantem que o modelo proposto “mantém-se em vigor nos exatos termos” em que foram colocados, que "têm permitido um “amplo confronto de ideias entre os líderes das candidaturas dos partidos e coligações e que tem merecido a atenção de muitos portugueses”. “Esperamos que todos o compreendam e valorizem”, concluem.

Se os debates em causa não se realizassem, tanto a CDU, como o Livre ficariam com menos um frente a frente em canal aberto, sendo alvo de um tratamento desigual. Por sua vez, aceitar debates com a presença de um líder do partido sem assento parlamentar corresponderia a um risco jurídico uma vez que os outros partidos sem assento na AR poderiam exigir também a participação em debates,

Em 2015, a coligação PAF, entre PSD e CDS, também foi representada por duas vezes por Paulo Portas, na altura vice-presidente do Governo e líder do CDS-PP, que contava com um grupo parlamentar num debate com Catarina Martins (BE) e com Heloísa Apolónia (CDU).

(Artigo atualizado às 20h46)

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