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Navio russo suspeito de transporte de armas esteve à deriva ao largo de Portugal: Marinha teve de intervir

Percurso do navio russo “Adler” a vermelho. Fonte: Marinha
Percurso do navio russo “Adler” a vermelho. Fonte: Marinha

O "Adler", um navio russo sob sanções internacionais, perdeu a propulsão ao largo da Póvoa de Varzim, fora do mar territorial. Quando começou a dirigir-se para terra, a Marinha teve de instar o comandante a contratar um reboque. Um rebocador espanhol levou-o para a Argélia

Navio russo suspeito de transporte de armas esteve à deriva ao largo de Portugal: Marinha teve de intervir

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

Navio russo suspeito de transporte de armas esteve à deriva ao largo de Portugal: Marinha teve de intervir

Vítor Matos

Jornalista

Um navio russo sob sanções internacionais — que está proibido de atracar em portos europeus — esteve à deriva ao largo da Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa, no final de agosto, e tentou entrar no mar territorial, por perda de propulsão. O “Adler” é um cargueiro especializado no transporte de automóveis, mas é suspeito de ações como entrega de mísseis à China e de armas à Líbia, transporte de munições para a guerra na Ucrânia.

A Marinha portuguesa confirmou esta informação, depois de questionada pelo Expresso: “Entre 27 de agosto e 2 de setembro, o navio mercante ‘Adler’, pertencente à NB Shiping Company Limited e com registo na Federação Russa, transitou ao longo da ZEE de Portugal Continental, de norte para sul — importando referir que a ZEE não está sujeita à soberania do Estado costeiro, sendo considerada alto-mar, exceto no que respeita à sua exploração económica”.

O navio foi entretanto rebocado, saiu da ZEE nacional no dia 2 de setembro, e encontra-se, neste momento, atracado em Orão, na Argélia. Já não é a primeira vez que esta embarcação reporta problemas na navegação. Em dezembro de 2019 teve um problema idêntico no Estreito de Istambul.

Segundo o porta-voz do chefe do Estado-Maior da Armada, comandante Ricardo Sá Granja, “no momento da entrada na ZEE portuguesa, o navio começou a derivar em direção a terra, sem nunca ter entrado em águas territoriais portuguesas [mar territorial], espaço esse já sujeito à soberania nacional. Perante isto, o navio foi contactado pelo Centro de Operações Marítimas, tendo comunicado uma avaria na propulsão”.

“Neste quadro, de forma a preservar a segurança da navegação e a minimizar os riscos ambientais, decorrentes de um eventual incidente de poluição no mar, o navio foi instado a contratar serviços de reboque, para evitar uma situação de navio desgovernado, que poderia fazer perigar a navegação e a costa portuguesa. O comandante do navio agiu sempre de forma cooperante”, garante o porta-voz da Armada, sem revelar se a embarcação russa chegou a ser abordada ou fiscalizada por algum navio de guerra português. A Marinha também não respondeu sobre se teve conhecimento da carga que o “Adler” transportava nem a que entidades reportou o incidente.

O navio foi rebocado a 29 de agosto pelo rebocador espanhol “Roma”, “a cerca de 16 milhas a oeste da Póvoa de Varzim”, explica o comandante Sá Granja, sem que tivesse entrado em águas territoriais portuguesas. Na imagem em baixo, pode ver-se o percurso do “Adler” a vermelho.

O navio consta da lista negra do Gabinete de Controlo de Ativos Estrangeiros (OFAC na sigla em inglês), organismo do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos da América, responsável pela aplicação de sanções financeiras e combate ao branqueamento de capitais. O “Adler” terá transportado carros de combate para mercenários russos do Africa Corp, em janeiro de 2025, e levado mísseis S-400 para a China em 2018.

Outros navios da empresa ligada à companhia de navegação a que pertence o “Adler”, a M Leasing LLC, são suspeitos de terem transportado munições e armas da China e da Coreia do Norte para a guerra da Ucrânia. A União Europeia congelou os ativos da M Leasing LLC devido à sua “participação numa rede logística de transporte de armas norte-coreanas para a Rússia, em benefício do Ministério da Defesa russo”. A CEO da empresa, Svetlana Vladimirovna Savelyeva, também está sob sanções europeias.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

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