O Chega retirou a confiança política aos vereadores eleitos pelo partido em Sesimbra e no Seixal. Ambos viabilizaram orçamentos municipais da CDU e, no caso de Sesimbra, o vereador aceitou um pelouro, o da Proteção Civil, justificou esta segunda-feira o presidente do Chega, André Ventura. “Nos dois casos, houve uma violação direta das regras do partido de não pactuar com partidos que têm destruído Portugal”, acrescentou, em conferência de imprensa, na sede do Chega, em Lisboa.
A viabilização dos orçamentos comunistas “envergonha o partido, os próprios vereadores e os eleitores”, sublinhou Ventura, acusando Márcio Souza (eleito em Sesimbra) e Henrique Freire (eleito no Seixal) de “complacência pessoal” e de obedecerem a “interesses obscuros”. “É inadmissível e nenhum partido antissistema pode viver com isto de forma complacente e de forma tolerante”, disse ainda, anunciando que ambos os vereadores “deixam de representar o partido e passam a agir como independentes a partir de hoje”.
Sesimbra e Seixal foram “concelhos fundamentais para o crescimento do Chega, até nas últimas legislativas”, levando à eleição de um deputado pelo círculo de Setúbal, destacou. Quanto aos deputados municipais em ambos os concelhos, “mantêm-se firmemente leais e inabalavelmente ao lado do Chega”, garantiu. E anunciou a realização de uma nova convenção autárquica a 12 de março em Lisboa.
Em rigor, Márcio Souza já se tinha declarado independente em dezembro, falando em “desacordo total com a forma de atuação do partido”. Para Ventura, “muitas vezes as pessoas dizem o que dizem, mas depois mantêm-se a levar a cabo funções em nome do Chega” e “há um momento em que tem de ser o Chega a dizê-lo”. Assim, dos 19 vereadores eleitos pelo partido nas autárquicas de setembro restam 16 depois de, logo em novembro, Cidália Figueira, eleita em Moura, ter alegado “divergências políticas” e “alguns desentendimentos” com o Chega para passar a independente.
Menos de um mês após as autárquicas, o vereador eleito pelo Seixal já tinha gerado desconforto por ter votado na CDU para a eleição para as assembleias de freguesia de Amora e Corroios, quando podia ter-se abstido. Na altura, em comunicado, o Chega Seixal assegurou que “não se vendeu, nem se venderá, por um cargo, um pelouro ou qualquer outro ‘tacho’ que manche a confiança depositada pelos eleitores” nem “fará qualquer coligação/acordo pós-eleitoral com a CDU, com o PS/PSD ou qualquer outro partido no Seixal”.
Ventura afirmou que ao mesmo tempo que pretendeu “preservar a autonomia dos eleitos”, o partido que lidera não poderia aceitar “esta complacência entre a vereação e a gestão comunista”. As explicações dadas pelos vereadores que passam agora a independentes foram “praticamente nenhumas”, apontou. Questionado sobre se não teme que algo semelhante aconteça no grupo parlamentar de 12 deputados que o Chega elegeu nas legislativas de janeiro, Ventura disse não crer que isso venha a ocorrer. Mas se acontecer, o deputado do Chega que viabilizar um orçamento ou aceitar um cargo num governo do PS “terá o mesmo destino”, sentenciou.
Ainda assim, o presidente do Chega reclamou reiteradamente presença num governo do PSD antes das eleições. Ventura não vê nisso incongruência: “Apesar de tudo, o PSD é um partido do sistema mas não é o PS ou o PCP.” “Distinguimos o espaço a que pertencemos e o espaço contra o qual intrinsecamente lutamos”, vincou.
Ventura afirmou-se confiante de que a bancada parlamentar do Chega poderá ainda contar com um 13.º deputado após a repetição das eleições no círculo da Europa, a 12 e 13 de março. E anotou que o partido teve “uma votação superior no círculo da Europa do que em território nacional”. Por isso, iniciará na quarta-feira um périplo por alguns países europeus, a começar com uma reunião em Madrid com Santiago Abascal, líder do Vox, e um encontro com emigrantes em Espanha, apontando que tanto o PSD nacional como o PP espanhol estão “desgastados”, “sem rumo” e com “possíveis alterações de liderança” no horizonte.
Na próxima semana, Ventura vai a Paris fazer campanha junto de emigrantes portugueses e apelar ao voto em Marine Le Pen nas presidenciais francesas de abril. Suíça, Bélgica, Luxemburgo e Reino Unido são as outras paragens deste périplo europeu.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt