Política

“Há um Chega infiltrado no PS, tenho vergonha disto”: Isabel Moreira critica despejos em véspera de eleições

Demolições ocorridas no bairro do Talude Militar, em Loures, em julho deste ano
Demolições ocorridas no bairro do Talude Militar, em Loures, em julho deste ano
José Fonseca Fernandes

“Fala-se em quem cumpre e em quem não cumpre, a linguagem da extrema-direita instalou-se à custa de gente que não escolheu construir uma barraca para fugir ao frio e ao sol”, acusa Isabel Moreira numa publicação nas redes sociais

A deputada do Partido Socialista Isabel Moreira recorreu, este sábado, 19 de julho, a uma mensagem publicada em várias redes sociais para criticar o que diz ser “um Chega infiltrado no PS”, partido que já fala a “linguagem da extrema-direita” ao se referir a moradores em habitações precárias como “infratores”.

A publicação é feita dias depois da demolição das barracas no bairro do Talude Militar, em Loures, nos arredores de Lisboa, e é ilustrada por imagens do perfil de Facebook do autarca, Ricardo Leão, a agradecer mensagens de apoio onde constam frases como “força, estamos na Europa não em África” e “vão para o país deles, vão para as sanzalas”.

Isabel Moreira diz que “há um spin no PS” - e “há muito tempo” - que se reflete nesta “estratégia que se vê nestas caixas de comentários”. Sugere, ainda, ações concertadas entre Câmaras Municipais para proceder a ações semelhantes: “É véspera de eleições. Os municípios em causa articulam-se. Os avisos são todos iguais. Onde vão dormir as crianças apelidadas de “infratores” antes de adultas? Não sabem."

"Há um spin no PS. Como se não soubessem o que se passa. Há muito tempo”, escreveu.

“Adivinho um bom resultado eleitoral para o verdadeiro infrator. Escolho ficar mais tempo em minoria. Isto não é PS. Tenho direito a ter opinião. Isto é um chega infiltrado no PS. Fraco. Como explicou Helena Roseta. Os comentários, o virar de costas a crianças que a cada dia adoecem na rua, são auto-explicativos. Escrevi isto em defesa de todos nós”, publicou.

“Tenho vergonha disto (…) Sei que o estado de direito, a igualdade, a inclusão, até o amor, não são movimentos populares”, acrescentou, ressalvando que não retira "um pingo de responsabilidade ao Governo” no sucedido.

“Abuso de poder”

Sobre as ações do autarca socialista de Loures e da sua equipa, Isabel Moreira crê que “talvez” seja necessário “começar a falar em abuso de poder”. O ataque é feito diretamente à “versão de Ricardo Leão” e à ação da Câmara Municipal de Loures, descrita várias vezes como estando em infração da lei.

Sei quando as barracas foram construídas. São ilegais, sim. Não deviam existir e o Governo devia ser responsabilizado pela subida do preço das habitações, pela impossibilidade de tanta gente que trabalha e desconta ter direito à habitação", escreve.

Mas, prossegue, "também sei que os avisos de despejo em vésperas de eleições autárquicas num bairro que já ali está há muito faz parte de uma lógica evidente. Ali e não só. Avisa-se a uma sexta-feira. Não há ninguém da CM a acompanhar, a comunicar, nada, e a tutela jurídica é atropelada. É ilegal fazer isto", acusou.

“Viola-se a lei, mas, antes, viola-se a Constituição, a dignidade da pessoa humana, o direito à privacidade, os deveres de proteção da infância, o direito à habitação. Li as providências cautelares interpostas em desespero. Li a decisão do Tribunal. Um decisão que ordenou a suspensão das demolições, quando tantas barracas já estavam demolidas. Sublinho isto, porque estou a ouvir falar em “infratores”. Talvez começar a falar em abuso de poder”, acrescentou.

“Dezenas de crianças na rua. Talvez mais indigno do que uma barraca. Fala-se em quem cumpre e em quem não cumpre, a linguagem da extrema-direita instalou-se à custa de gente que não escolheu construir uma barraca para fugir ao frio e ao sol. Mães. Crianças. Pessoas com deficiência. Mães que temem pedir ajuda porque temem perder os filhos. E quem explica? Onde está um vereador a gerir isto? Não está. Porque o bairro de gente que não encontra casa ao valor de uma renda e caução estava lá há muito”.

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