Exclusivo

Política

Santa Casa: dos jogos no Brasil ao buraco nas contas, do “benefício próprio” ao “saneamento”, o que Ana Jorge e a ministra têm de explicar

Santa Casa: dos jogos no Brasil ao buraco nas contas, do “benefício próprio” ao “saneamento”, o que Ana Jorge e a ministra têm de explicar
Nuno Fox

A provedora, exonerada pelo Governo, é ouvida esta quarta-feira no Parlamento, enquanto a ministra do Trabalho falará na quinta. Ambas trocaram duras acusações nas últimas semanas

Tiago Palma

Jornalista

As audições da passada semana na Comissão de Trabalho e Segurança Social deixaram uma sensação de “passa-culpas” entre quem mandou.

No Parlamento, e perante as questões colocadas pelos deputados, os antigos responsáveis pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e, sobretudo, pelo negócio da internacionalização (a Santa Casa Global) do jogo social na instituição — que causou perdas de €52,790 milhões —, garantiram que o projeto necessitava de tempo para dar lucro e que a provedora exonerada pelo Governo, Ana Jorge, nunca o deveria ter cancelado.

Numa coisa todos concordaram: a situação financeira da SCML é delicada (entre o rombo da Santa Casa Global, a compra do hospital da Cruz Vermelha, o investimento na Sociedade de Apostas Sociais e despesas com as outras participadas, o "buraco" pode ser de quase 100 milhões) e será urgente encontrar projetos, este ou não, que assegurem novas fontes de receita.

“EX'S” CONTRA ANA JORGE. E O RELATÓRIO?

É que se é verdade que a SCML fechou 2023 com lucros de €2,451 milhões, é também verdade que as contas da instituição não saem desde 2020 do “vermelho” — e isso muito se deve à quebra nos jogos sociais, principal fonte de receita (por representarem cerca de 80% dos seus proveitos correntes) da Santa Casa.

Mas recuperemos o que se disse no Parlamento. Edmundo Martinho — antecessor, na provedoria, de Ana Jorge —, Francisco Pessoa e Costa — gestor da Santa Casa Global (SCG) despedido, com justa causa, pela provedora — e Ricardo Gonçalves, ex-administrador da SCG igualmente destituído, unem vozes contra a mulher que em 2023 assumiu as rédeas da instituição.

Martinho disse que Ana Jorge terá causado “um dano irreparável” ao cancelar o projeto “sem ter uma estratégia montada e pensada” — e que “é normal” que durante um período “houvesse resultados negativos”.

Por sua vez, Pessoa e Costa, acusado pela provedora de "investimentos absolutamente ruinosos” no Brasil, devolveu a acusação, questionando “com que consequências, com que análises técnicas, jurídicas ou financeiras se interrompeu o processo de internacionalização?”. “A internacionalização não foi uma ideia peregrina. Havia um plano estratégico, aprovado por dois ministros, Vieira da Silva e Ana Mendes Godinho”, assegurou.

Por fim, Ricardo Gonçalves: garantiu que “há registo de todas as movimentações financeiras do processo de internacionalização” e se a provedora e a anterior mesa da SCML “não encontram é porque nem foram procurar”.

A posição destes antigos gestores da SCML fica, contudo, fragilizada pelo argumento mais forte de Ana Jorge: a auditoria requisitada pela provedora à consultora BDO.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: tpalma@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate