Política

Marcelo achou "maquiavélico" o "equilíbrio sofisticado" de Lucília Gago nos inquéritos a Costa e ao caso gémeas

Marcelo achou "maquiavélico" o "equilíbrio sofisticado" de Lucília Gago nos inquéritos a Costa e ao caso gémeas
MIGUEL A. LOPES/Lusa

Confissões do Presidente no encontro de quatro horas com a imprensa estrangeira em Portugal não param de surpreender. Marcelo fala de “equilíbrios” entre inquéritos do Ministério Público, um envolvendo António Costa, o outro sobre o ‘caso gémeas’

Marcelo achou "maquiavélico" o "equilíbrio sofisticado" de Lucília Gago nos inquéritos a Costa e ao caso gémeas

Ângela Silva

Jornalista

O Presidente da República achou “maquiavélico” o “equilíbrio sofisticado” que diz ter encontrado na abertura de dois inquéritos por parte do Ministério Público, um envolvendo o ex-primeiro-ministro António Costa, o outro sobre o chamado 'caso gémeas" que envolve a Presidência da República e o filho do Presidente.

Marcelo disse-o no badalado encontro que teve, durante o serão de terça-feira, com correspondentes de orgãos de comunicação social estrangeiros em Portugal e cujos áudios foram divulgados por alguns dos presentes. Um deles, Vicente Nunes, correspondente do Correio Braziliense, publicou entretanto um artigo no Público com o título “Marcelo sem filtros”, onde relata pormenores da conversa.

No encontro, que durou quatro horas, o Presidente falou da sua relação com o ex-primeiro-ministro António Costa, que disse ter preferido ver continuar no cargo até 2026, analisou o estilo bem diferente do novo primeiro-ministro, Luis Montenegro, que disse ser “difícil de entender”, “completamente independente, não influenciável e improvisador”, com um estilo “rural”, e relatou como teve que cortar com o filho por causa do caso gémeas. Mas também não poupou Lucília Gago, a Procuradora Geral da República.

“A senhora Procuradora, com a mesma presteza com que tinha tido a iniciativa de abrir um inquérito envolvendo o primeiro-ministro (António Costa), um mês antes de os portugueses saberem, umas semanas mais tarde tinha também aberto um inquérito contra terceiros. Em que dia? No dia 7 de novembro”, relatou Marcelo. Sendo que 7 de novembro foi o dia em que António Costa se demitiu de chefe do Governo após saber que o seu nome estava envolvido num inquérito do MP.

O Presidente parece insinuar que os prazos não terão sido inocentes: "Achei maquiavélico. Gere equilíbrio (a senhora Procuradora). Equilíbrio sofisticado. Muito bem. Abriu, abriu (o inquérito ao caso gémeas, após o inquérito ao ex-PM).

Esta quarta-feira, questionado pelos jornalistas à saída de um evento comemorativo dos 50 anos do 25 de abril sobre se tinha dito que Lucília Gago era maquiavélica, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Não, nunca disse isso, fui muito cuidadoso no que disse nesse particular”. De facto, não disse que a Procuradora é maquiavélica. Disse que a conjugação dos timings dos dois inquéritos revelou uma preocupação de equilíbrios, esses sim, maquiavélicos.

“As mais de quatro horas de conversa, que teve como prato principal um naco de carne com batatas gratinadas, foram uma espécie de catarse por parte do presidente”, escreve no Público o correspondente do Correio Braziliense.

“Ele expôs todo o seu descontentamento e espanto em relação ao jeitão “rural” (caipira, no Brasil) do primeiro-ministro Luis Montenegro” - escreve o jornalista brasileiro - “tentou mostrar muita proximidade com o ex-primeiro-ministro António Costa, a quem chamou de “oriental e lento”, para, talvez, tirar o peso de ter dissolvido o parlamento e convocado eleições. E, para espanto dos presentes, antes mesmo que pudesse ser questionado pelos jornalistas, levantou a questão sobre as gêmeas brasileiras, que lhe rendeu um processo que está sendo conduzido pelo Ministério Público, por suspeitas de favorecimento às meninas em um tratamento de saúde”.

Vicente Nunes conta que vários assuntos “foram-se sucedendo, sem que o presidente se preocupasse em pedir o tal off, quando a informação deve ficar apenas com o ouvinte. Isso aconteceu, no máximo, cinco vezes, em tema mais delicados”. Não sabemos quais.

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