Um estudo da consultora LLYC que é lançado esta terça-feira (5) mostra que “Economia e Impostos” foi o tema mais debatido no período pré-eleitoral, tendo ocupado 32,8% do total de tweets e notícias publicados online. Esta análise, que inclui o conteúdo publicado na rede social X (antigo Twitter) e em meios de comunicação online, demonstra que, dentro desta área, os aumentos do salário mínimo e médio (11,4%), as mudanças no IRS (7,7%) e os temas relacionados com contribuições e Segurança Social (6,2%) foram os que mais motivaram diálogo. E o debate foi mesmo conduzido pela sociedade civil, que falou mais destes assuntos que os líderes políticos. A consultora arrisca que, talvez por isso, o IRC tenha sido o subtema menos falado nesta categoria, com menções de apenas 3,1%. É, de resto, o tema económico menos falado nas notícias e pelo público em geral.
Maria Eça, diretora de Assuntos Públicos da LLYC, refere que no período em análise, de 1 de janeiro a 29 de fevereiro, a temática da Economia e Impostos, “esteve sempre presente e ativa em todos os grupos sociais”.
Estes dados coincidem com os valores apontados pelo Eurobarómetro do outono de 2023, que indicavam que as questões relacionadas com rendimentos, aumento de preços e custo de vida eram, para 51% dos inquiridos, um dos dois temas que mais os preocupavam.
Dentro da temática económica, o equilíbrio orçamental representa apenas 1% do volume de conversação online. As “contas certas” que têm sido bandeira do Partido Socialista, bem como a redução do volume de dívida pública, parecem estar longe do radar de preocupações do eleitorado.
“Se pensarmos que houve notícias sobre os salários, houve programas de partidos que se focaram muito no tema salarial, no tema dos impostos e que estes são os temas que mais afetam as pessoas no seu dia a dia, é natural que surjam em vantagem face ao tema da dívida pública, que acaba sempre por ser uma discussão mais a um nível macro”, descreve Maria Eça como uma das explicações possíveis.
Debates fizeram conversação disparar
Debates e Eventos Políticos (25,9%), Serviço Nacional de Saúde (17,2%), Corrupção (8,4%) e Forças de Segurança (4,4%) ocupam os restantes lugares do top cinco de temas mais discutidos, revela o estudo, que dividiu os intervenientes por quatro diferentes grupos sociais: líderes e partidos políticos, sociedade civil, jornalistas e principais opinion makers.
Os debates televisivos, muito discutidos e comentados, foram fundamentais para estimular a conversação em torno das eleições. A partir do momento em que se realizou o primeiro frente-a-frente, a 5 de fevereiro, a conversação sobre temas da campanha cresceu 62,8% face à média registada até aí, mostram os dados da LLYC.
Os debates que mais geraram discussão foram Luís Montenegro x Mariana Mortágua, Pedro Nuno Santos x André Ventura e Luís Montenegro x Pedro Nuno Santos que, foram, também, os três com maior audiência televisiva.
Corrupção é discutida, mas sem consequências
O tema da corrupção, embora seja o terceiro mais debatido, é pouco abordado do lado da solução, descreve a análise. Apenas 0,5% da conversação incidiu no tema da reforma da Justiça. Existe uma grande assimetria entre o volume de menções relacionadas com corrupção que são trazidas pelos cidadãos e a resposta dos partidos políticos, avançam os responsáveis do estudo.
“O que é que acontece? Os políticos não discutem, nesta nossa análise, soluções para a corrupção e quando o fazem, quando se fala da reforma da justiça, que em certa medida pode ser vista como uma das medidas que pode ajudar a combater a corrupção, estão isolados nesta conversação. Os cidadãos, quando se queixam da corrupção fazem-no sem fazer esta ligação à reforma da justiça. E isso foi uma das maiores surpresas que nós encontrámos”, indica Maria Eça.
A diretora de Assuntos Públicos da LLYC menciona ainda que o tema da corrupção, apesar de ser o quarto ao nível do número de menções, “não teve um papel assim tão relevante como se calhar pensávamos em novembro que poderia vir a ter”, acrescentando ainda que isto pode ter também acontecido “pelo facto de, a nível político, a discussão estar muito limitada à reforma da justiça e isso não ter uma consequência na conversação por parte das pessoas”.
Jornalistas falam das forças de segurança, mas políticos fogem do tema
Existiu uma discrepância notória no tema das forças de segurança, que embora surja em 4,4% da conversação online, tem muito mais atenção por parte dos jornalistas (11,3%) do que dos políticos (1,2%).
O tema surgiu na análise “já numa fase muito específica do período em análise”, refere a LLYC. “É um tema que surge e, a partir daí, a interação dos políticos sobre ele é uma reação ao tema e não uma mensagem ou proposta em que fossem proativos”, expõe Maria Eça.
Adianta como hipótese que uma das explicações possa ser o facto de este ser “um tema sensível em que nenhum fica propriamente bem na fotografia. E, portanto, não teriam interesse em puxar tanto por ele”.
Habitação só vem em sexto lugar, Saúde é um problema transversal
A habitação, um dos assuntos identificados como prioritários pelos portugueses nos últimos inquéritos de opinião, acabou por não se destacar neste estudo. Teve um volume de conversação de 4,1%, empatada na sexta posição com as temáticas do Ambiente.
Na análise dos dados do estudo, Maria Eça aponta que este foi um tema menos transversal do que poderia ser esperado inicialmente — e faz uma comparação. “No caso das temáticas do Serviço Nacional de Saúde, os contributos para a conversação vieram de 34,3% dos perfis analisados, enquanto que na Habitação apenas 17% dos perfis alimentaram a conversa”.
“Isto mostra como não é um tema tão transversal na conversação online como o SNS ou como a Economia e Impostos. Não quer dizer que não tenha tido relevância, mas não o foi de forma tão transversal”, analiza.
Também abaixo do que seria esperado nesta análise ficou o tema da Educação, com um volume de apenas 0,8% das menções. “A educação é o menos falado dos temas”, apesar de ter estado entre os setores com maior contestação no último ano. Mais uma vez, a Saúde surge no polo oposto: está entre os temas que são apontados como foco de preocupação dos portugueses e isso comprovou-se no debate na rede social X e no espaço mediático, com mais de um terço dos perfis a alimentarem uma conversa que chegou a quase 17% dos conteúdos produzidos.
Este estudo da LLYC foi construído através da análise de tweets e notícias online sobre os temas-chave das eleições legislativas, entre os dias 1 de janeiro e 29 de fevereiro de 2024, utilizando a ferramenta da empresa Brandwatch, que detém o maior arquivo de sempre de conversação: 1,3 mil milhões de posts disponíveis.
A LLYC “analisou os dados com recurso a mecanismos de IA (Inteligência Artificial), NLP (Processamento de Linguagem Natural) e SNA (Análise de Redes Sociais) para estruturar, interpretar e visualizar a análise de grandes volumes de dados não estruturados, como é o caso de conversas nas redes sociais”.
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