Doentes urgentes que esperam 12, 15 ou 18 horas para serem atendidos num hospital; o atual pico de mortalidade “só comparável” com os tempos da pandemia; e o aumento do número de utentes sem médico de família (mais 9,8%) são questões que Luís Marques Mendes sublinha como “não normais”.
No seu habitual espaço de comentário televisivo no Jornal da Noite na SIC, o antigo líder do PSD, sublinhou que “a primeira anormalidade é a falta de planeamento na saúde”. A esta acrescenta “as desculpas esfarrapadas do Governo”, quando "se fez o maior investimento de sempre no setor, mas a situação vai de mal a pior”.
Perante o pico de infeções e o caos nas urgências, o comentador apelou à vacinação dos portugueses e disse esperar que “as oposições tenham alternativas para tentar melhorar a situação”.
Um ano difícil
O aumento de preços no ano que agora começou e o fim do IVA Zero foram outros dos temas destacados por Marques Mendes, que lembrou que Espanha prolongou por seis meses a medida, mas Portugal não.
Apesar de dar nota positiva ao aumento de 6% das pensões mais baixas (até €1082); de 7,9% no salário mínimo nacional (passa para €820); ou de 3 a 6,8% na função pública e variáveis no privado, que “aumentam o poder de compra”, Marques Mendes admitiu que estes “aumentos dos rendimentos vão ser literalmente engolidos” pelo aumento do preços do cabaz alimentar, que “anda na ordem dos 10%”.
Perante esta realidade e um excedente orçamental, deixou o recado: “Não seria de reforçar o apoio financeiro às famílias mais carenciadas, já que, como se vê, os aumentos salariais e das pensões são comidos entre aspas”.
Falta de transparência nos casos CTT e TGV
A polémica da compra das ações dos CTT pelo Governo e do financiamento dos TGV foram outros dos temas em análise. Marques Mendes criticou “a falta de transparência” do Governo nos dois casos. Reconheceu que “o governo tem o direito de dar ordem para se comprar ações, mas tem o dever de dar informação pública”. E criticou o que chamou de “padrão de atuação” de “esconder a verdade”, relembrando o caso de Alexandra Reis e da “indemnização choruda” da TAP.
No caso do TGV, lembrou tratar-se de “um investimento gigantesco” (mais de 700 milhões de euros) e que é preciso clarificar se se trata de uma parceria público-privada, já que até agora “nada foi dito” e “ninguém esclarece” esta e outras questões. Entre estas, se essa parceria é para uma nova linha ou para explorar essa linha e qual o investimento público e o privado neste projeto. Isto quando há decisões a tomar “até ao final do mês”. E relembrou que “as PPP rodoviárias foram um desastre”.
“Um congresso curioso” e uma AD com dois problema
Classificando o Congresso do PS, que encerrou este domingo, como um “congresso curioso”, Marques Mendes destacou “a unanimidade em torno de reafirmar e homenagear o legado de António Costa”, que lhe pareceu “normal e natural”, “concorde-se ou não com o que ele fez ou não fez”.
Já o facto de uma parte dos apoiantes de António Costa terem feito ataques ao Presidente da República e ao Ministério Público é classificado é mais uma das “anormalidades” para Marques Mendes. Segundo o comentador, os ataques a Marcelo “são um ajuste de contas sem qualquer utilidade” já que “não vai mais a votos”, mas “continua cá, e António Costa sai”.
Marques Mendes reforça a crítica à inclusão do parágrafo da PGR referente a António Costa no caso da Operação Influencer: “Aquele parágrafo nunca devia ter existido”. E considera que a sua inclusão tem mais a ver com “argumentos políticos” do que com transparência".
O comentador criticou ainda o Partido Socialista por se queixar da justiça, “mas durante oito anos não ter feito nenhuma reforma na justiça”. E voltou a usar o substantivo “anormalidade” para se referir ao PS que critica a PGR que nomeou.
Quanto à prestação de Pedro Nuno Santos no congresso do PS, Marques Mendes considerou que “a ele correu-lhe bem, porque conseguiu fazer a unidade do partido, não se envolveu nas tontarias de ataques ao Presidente da República e ao Ministério Público, e porque ele fez dois bons discursos”. Sobretudo o deste domingo que disse ter sido “bem pensado e define as linhas orientadoras de uma agenda governativa”. Porém, lembrou “a imagem de impreparação, ou até de alguma imaturidade que ele deixou nalguns dossiers” quando esteve no Governo.
Já quanto à assinatura do acordo formal da nova AD este domingo, Marques Mendes aplaudiu a coligação PSD/ CDS/PPM e defendeu quatro vantagens para a sua existência: “Traz um novo élan político; permite ter mais deputados do que se os partidos concorressem separadamente; tem abertura para integrar membros da sociedade (como o ex-bastonário da Ordem dos Médicos Miguel Guimarães); e é um projeto transformador”.
Contudo, o comentador também admitiu que esse projeto transformador ainda não existe e esse é um dos problemas nas mãos de Luís Montenegro e de Nuno Melo. O outro, acrescentou, é que “a AD só ganha as eleições se o Chega não tiver um resultado muito alto”, ou seja mais de 10%, o que obriga a que “a Aliança Democrática tenha a mensagem certa e adequada”.