Num rol de elogios a António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa abriu caminho para o primeiro-ministro se candidatar à liderança do Conselho Europeu e até às presidenciais de 2026. “[António Costa] tem um prestígio europeu excecional, (...) tem condições para ser líder do Conselho Europeu se ele entender que tem condições internas”, respondeu o Presidente aos jornalistas. A somar a isso, o chefe de Estado confirmou ainda que vê em António Costa um “bom candidato” para lhe suceder daqui a dois anos, isto se recusar seguir para Bruxelas. “Não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo”, atirou.
Questionado sobre a campanha interna à liderança do PS, o presidente da República fez uma declaração inusitada: o seu candidato preferido à liderança mantém-se António Costa. “O meu preferido era o dr. António Costa”. Marcelo Rebelo de Sousa disse que a demissão do PM foi uma decisão do próprio e nunca uma indicação do presidente. “Ele é que comunicou que ia embora, eu não disse “vai embora”. Como é que se dissuade uma pessoa que tem uma convicção muito profunda de que aquela é única saída correta? É impossível”, respondeu.
Para contradizer as acusações do chefe de Governo – que tem colocado a responsabilidade da atual crise política nas mãos do presidente da República por este ter convocado eleições antecipadas –, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o próprio Costa admitiu que “sabendo o que sabe hoje”, manteria a decisão de se demitir. “A decisão que tomei foi consequência [da demissão do PM] e não causa do que está a acontecer”, vincou.
Apesar do aparente estalar do verniz entre palácios, Marcelo Rebelo de Sousa deixou ainda uma palavra de apoio a uma possível candidatura de António Costa às presidenciais de 2026. “Eu tenho de gerir este futuro imediato dos próximos dois anos. Se me pergunta, se depois dos dois anos [António Costa] seria bom candidato? Sim, se não for presidente do Concelho Europeu", respondeu.
Até agora, o primeiro-ministro em gestão sempre afastou a possibilidade de uma ida para Belém. E com a investigação que levou à queda da maioria absoluta, mostrou até que poderá manter-se afastado de qualquer cargo público até existirem conclusões da justiça.
Caso das gémeas: Marcelo quer que “justiça funcione” e diz que manter apoio de 50% dos portugueses é “miraculoso”
Sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, Marcelo Rebelo de Sousa não se quis “pronunciar” sobre a matéria. Ainda assim, o presidente da República lembrou que há uma investigação a decorrer no Hospital de Santa Maria que irá seguir para o Ministério da Saúde e, depois, “provavelmente” chegará ainda à Procuradoria-Geral da República. “Opinar sobre o documento de uma investigação em curso penso que não é adequado”, respondeu sobre a auditoria do hospital em causa.
“Vamos esperar pelo apuramento da realidade. Se se apurar que houve em alguma fase qualquer coisa que foi ilegal, seja de quem exerce funções publicas seja de quem é mero privado, naturalmente aí funciona a justiça”, resumiu.
Também sobre o envolvimento do filho, Nuno Rebelo de Sousa, o presidente declarou não ter “nada a esclarecer”. “Quem tem de esclarecer é quem está a investigar. Depois de investigar, ou se conclui que alguma coisa correu bem ou que correu mal. E reagirei em conformidade”, garantiu.
Com o caso a fazer cair a popularidade do presidente da República – a última sondagem mostra só 48% dos portugueses acredita que o PR tem condições para levar o mandato até ao fim –, Marcelo desvalorizou. “Ao fim de oito anos, a popularidade é a coisa mais volátil que há na vida. Durante os incêndios, o caso de Tancos, a especulação sobre o que disse sobre abusos sexuais na Igreja, a popularidade desceu”, lembrou.
Tentando afastar a queda da questão isolada do tratamento às crianças luso-brasileiras, o presidente lembrou outros fatores como a demissão de António Costa a que se seguiu a dissolução do Governo e, por motivos diferentes, também a queda do Governo regional dos Açores. “Isso provoca um choque na opinião pública”, justificou. A somar a isto, na visão do presidente, há ainda um “desgaste” causado por notícias “de manhã, à tarde e à noite” sobre o caso das irmãs luso-brasileiras. “Depois disso tudo, andar com núcleo duro de 50% dos portugueses é miraculoso”, disse.
Ainda assim, o presidente considera que os portugueses têm sido “muito consistentes” e que mantêm o “núcleo crítico constante [do PR] à volta dos 35%”.
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