Política

Mariana Mortágua declara guerra aos “facilitadores” onde se inserem o PS “dos truques” e a direita “raivosa”

Comício Bloco de Esquerda com Mariana Mortágua.
© Nuno Fox
Comício Bloco de Esquerda com Mariana Mortágua. © Nuno Fox
Nuno Fox

Em campanha eleitoral assumida, o Bloco mede o pulso ao eleitorado no primeiro “grande comício” após a queda do Governo. Mariana Mortágua colocou como adversários os “facilitadores”, à esquerda e à direita, que mantêm os vistos gold, a guerra com os professores ou os médicos

Depois do PCP, foi a vez do Bloco de Esquerda entrar oficialmente em campanha eleitoral no Capitólio, em Lisboa, esta quinta-feira, dia 30. No longo discurso, Mariana Mortágua atirou ao maior inimigo político - o PS -, mas também à direita “raivosa” juntando-os num só grupo: os “facilitadores”. As maiores críticas foram para medidas aprovadas no Orçamento do Estado para 2024 como a manutenção do regime para não residentes ou dos vistos gold. “Que generosos somos, ao abdicar de 1400 milhões de euros, para que esta gente endinheirada possa adquirir o seu apartamento de luxo, impondo preços de luxo nas cidades onde as pessoas já não podem viver”, atirou. Sendo muitas vezes apelidada de ‘radical’ no passado, a coordenadora do Bloco decidiu virar a agulha e colocar o PS como um partido pouco “moderado”. “Com tudo o que têm andado a fazer, atrevem-se [PS] a dizer-se moderados? Moderados em quê? Rendas moderadas, preços moderados?”. No fim, lançou a certeza de que o Bloco irá partir para eleições para “vencer”.

Tanto o executivo socialista como a oposição à direita foram colocados por Mortágua no saco dos “facilitadores” - palavra que repetiu mais de 20 vezes ao longo do discurso. O primeiro exemplo dado pela líder bloquista foi o presidente da Câmara de Cascais (PSD) que promove “bairros de luxo” e “vistos gold” e recusa dar um contrato de trabalho a uma funcionária de uma escola do município, que Mariana Mortágua conheceu, que ganha o salário mínimo há “20 anos” e é despedida “duas vezes por ano”. Dentro deste grupo, estão também os ministros que querem “atrair qualquer fundo de investimento, mesmo os mais manhosos” ou que “querem vender a TAP de uma assentada” como antes “desbarataram a Portugal Telecom, a melhor empresa publica que Portugal já teve”.

Com a habitação como uma das medidas-bandeira dos bloquistas, Mariana Mortágua guardou palavras especialmente ferozes para quem contribuiu para benefícios fiscais aos “endinheirados”. Não só o PSD e o Chega que apoiaram o PS na manutenção dos vistos gold, como o próprio Governo que recuou quanto aos prazo para o fim dos mesmos. “Esta semana, o PS decidiu prolongar os saldos. Mais um ano em liquidação total. Há melhor facilitador que um Governo que, com a sua maioria absolutíssima, cria benefícios especiais para a clientela, blindados com leis e mentiras?”, atirou.

São todos estes que o Bloco assinala como adversários nesta campanha eleitoral. “Vamos acertar contas com os facilitadores e proteger toda a gente que paga, com a sua vida esforçada, o privilégio de poucos”. E acrescentou:“não lhes vamos dar descanso”, vincou.

Mariana Mortágua no primeiro "grande comício" o Bloco desde a convocação de eleilções
Nuno Fox

Parte desse trabalho será feito através da defesa de políticas que já surgem como cara do partido como a criar “tetos para as rendas especulativas” ou limitar o “esforço dos juros para garantir mais casas a preços decentes”. Contudo, desta vez a coordenadora do Bloco deixou a defesa destas áreas mais próximas do Bloco aos restantes oradores – Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do partido, Joana Mortágua, deputada, e Bruno Maia, membro da mesa nacional do Bloco e ex- candidato à Ordem dos Médicos – e focou-se na guerrilha política.

Recuando à razão para a campanha eleitoral antecipada, Mariana Mortágua fez questão de culpabilizar a maioria absoluta pela atual crise política. “A maioria absoluta demitiu-se porque criou a sua própria crise. Porque os ministros e secretários de Estado entravam e saiam num virote, porque alguns deles se comportaram como verdadeiros rufias, porque o escândalo dos envelopes no gabinete responsabiliza o envelopador e fragiliza quem o escolheu”, disse.

Virando-se agora para o futuro, a coordenadora do Bloco antecipou “tempos difíceis e feios” onde a direita “raivosa” está “em modo de concurso para saber quem é mais boçal, mais violento, mais de direita”. Também a estes – onde se inserem o PSD, o Chega e também a Iniciativa Liberal –, a bloquista prometeu dar luta para contrariar a subida pré-anunciada pelas sondagens, nomeadamente, do partido de André Ventura.

Para motivar o eleitorado para os próximos tempos de campanha, foram declaradas também certezas de sucesso do partido na próxima ida às unas. “Queremos vencer, vamos às eleições para conquistar, não para deixar andar. Nem um passo atrás, viemos para lutar e lutamos para vencer. Nunca lhes demos nem nunca iremos dar-lhes descanso”, repetiu Mariana Mortágua.

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