Política

PCP rejeita envolvimento na Operação Influencer: insinuações são “fantasiosas” e “descabidas”

PCP rejeita envolvimento na Operação Influencer: insinuações são “fantasiosas” e “descabidas”
ANTÓNIO COTRIM

Entre as escutas do Ministério Público no caso que fez cair o Governo, o PCP é mencionado como um partido que poderia dar “apoio” ao projeto da Start Campus. Os comunistas já vieram rejeitar qualquer intervenção ou influência. "Essas insinuações não têm cabimento nenhum", defendeu Paulo Raimundo

A investigação que causou a demissão de António Costa e a queda do Governo continua com vários detalhes por apurar. Da informação que já se tornou pública, são vários os nomes socialistas que estão envolvidos na Operação Influencer – é o caso de João Galamba, João Matos Fernandes, ex-ministro do Ambiente, ou Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro. Contudo, também surgiu nas escutas do Ministério Público (MP) a referência ao PCP como podendo ter dado “apoio” ao projeto do data center de Sines – uma das empresas que podem ter sido favorecidas por elementos do Governo socialista. O secretário-geral comunista já veio rejeitar "por completo” o envolvimento e o Comité Central emitiu uma nota onde considera a ideia “fantasiosa”.

Tal como o Expresso explica, o processo que causou o terramoto político de dia 7 está divido em várias partes, uma delas centra-se no negócio da empresa Start Campus, o data center de Sines que vale 500 milhões de euros e que pode ascender aos dois mil milhões. É nessa mesma fase da investigação que foi conhecido o envolvimento do PCP. Entre as escutas do MP, ouve-se Afonso Salema, administrador da Start Campus, ao saber que existia uma arquiteta simpatizante do partido, a dizer que teria o “apoio” do PCP no projeto. “O PCP gosta muito de nós”, disse. No processo está ainda referido que este contacto foi feito por Diogo Lacerda Machado, consultor da Start Campus e amigo de António Costa, a “representantes do PCP, tendo conseguido obter o favor e apoio deste partido ao projeto”.

Perante a divulgação desta informação, o PCP já veio rejeitar qualquer envolvimento no caso ou influência a favor do projeto da Start Campus. “Rejeitamos por completo essas insinuações, não têm cabimento nenhum. É claro que quem faz essas afirmações vai ter de as justificar”, respondeu Paulo Raimundo aos jornalistas, na sede nacional do PCP, esta sexta-feira, dia 10.

Também o gabinete de imprensa do PCP reforçou as ideias do secretário-geral e juntou argumentos de defesa do partido. “É fantasiosa a ideia de um alegado poder que o PCP deteria para desbloquear um processo num município em que detém um em sete vereadores, dispondo o PS de maioria absoluta”, lê-se na nota divulgada esta sexta-feira. O partido afirmou ainda que a arquiteta mencionada nas escutas “não é membro do PCP e não tem qualquer compromisso ou ligação com o partido”. Os comunistas lembram ainda que os investimentos em Sines têm “merecido reservas do PCP” devido aos impactos sociais e ambientais. “A posição do PCP sobre este processo está aliás traduzida, em matérias essenciais, nas reservas expressas pelo voto do vereador da CDU contra quatro Projectos de Interesse Nacional no quadro do qual este investimento se insere, e na abstenção no Plano de Expansão da Zona Industrial destinada a acolher a empresa referida”, vinca o comunicado.

O PCP assume ter tido contactos com a Star Campus, que decorreram graças a uma “solicitação formal” por parte da empresa, mas que decorreram no “plano estritamente institucional”. Quanto a Diogo Lacerda Machado, que alegadamente facilitou o contacto entre o partido e a empresa, o PCP diz que “não se conhece participação” junto dos comunistas.

Assim, o partido considera quaisquer outras elações retiradas da menção do PCP na investigação como “infundadas” e, por isso, rejeita-as de forma “veemente”.

A investigação sobre os negócios do lítio e do hidrogénio remonta a 2019, quando João Galamba era secretário de Estado da Energia, mas há outras nove personalidades no centro da investigação do MP. Entre elas está António Costa por, alegadamente, ter “desbloqueado procedimentos” relacionados com o centro de dados em Sines. Foi esta informação, que até agora mantém-se apenas divulgada nos últimos parágrafos do comunicado de imprensa da Procuradoria-Geral da República (PGR), que fez com que o primeiro-ministro se demitisse. Agora, são vários os partidos que pedem mais explicações sobre o processo à PGR e ao MP, inclusive o PCP.

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