"Metade dos trabalhadores recebe mil euros ou menos. Como é que alguém paga uma casa para viver?", questiona Mariana Mortágua
TIAGO PETINGA
Mariana Mortágua esteve este sábado na manifestação do Movimento Vida Justa e instou o Governo a esclarecer o que vai acontecer às rendas em 2024. “É o mínimo que se pode exigir”, disse, sublinhando que só se alcança uma vida justa quando os cidadãos tiveram mais poder de compra
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, juntou-se à manifestação do Movimento Vida Justa, em Lisboa, para “prestar solidariedade pelo direito dos cidadãos a vida justa” e incitou o Governo a dizer o que vai acontecer às rendas das habitações em 2024.
“Metade dos trabalhadores em Portugal recebe mil euros ou menos, há um milhão que recebe o salário mínimo nacional e as contas são muito simples de fazer: Como é que alguém paga uma casa para poder viver”, questionou hoje Mariana Mortágua.
A bloquista deu como exemplo “cidades que são despojadas das suas pessoas, de habitantes que são expulsos da cidade” porque deixaram de conseguir pagar uma renda ou a prestação de um crédito à habitação.
Para Marina Mortágua, só se alcança uma vida justa quando os cidadãos tiveram mais poder de compra e para isso é necessário que os salários aumentem, melhor saúde e melhor educação.
“Os salários em Portugal são muito baixos, são vergonhosamente baixos e não é só o salário mínimo”, afirmou. Uma vida justa também será alcançada se houver uma revisão do preço das casas e apoio à habitação.
“O preço das casas tem de ser revisto e, neste momento, não há nada que o Governo esteja a fazer, que garanta a descida do preço das casas. Pelo contrário, as primeiras linhas do orçamento, sendo que o Governo tem um manifesto de intenções a dizer que, de facto, a habitação é uma prioridade para este Governo", referiu.
Mortágua lembrou que o INE alertou para que se nada for feito o aumento das rendas ficará nos 6% no próximo ano, 6% de aumentos de rendas que já estão em valores insuportáveis.
“O Governo tem de dizer ao país o que vai acontecer às rendas em 2024. É o mínimo que se pode exigir. É incompreensível porque é que, passados tantos meses de se saber qual vai ser o aumento de rendas, nada foi dito às pessoas”, sustentou a dirigente, alertando para o facto de, se nada for feito, se estar a defender “os valores da especulação e da ganância ilimitada”.
Reclamando “casa para viver, transportes para todos, aumento dos salários”, a manifestação pretende também ser um alerta “contra a repressão policial nos bairros” e pelo fim do “aumento de preços”.
“Os nossos problemas parecem invisíveis. Apesar de criarmos riqueza e trabalharmos todos os dias, haja pandemia ou não, a verdade é que aquilo que se vê nas televisões, aquilo que se preocupam os governos é com os banqueiros e ‘contas certas’. São sempre contas para quem é rico nunca pensam em quem trabalha”, criticam os organizadores da manifestação do movimento que nasceu nos subúrbios e bairros mais pobres.
TIAGO PETINGA
“Já não é possível viver com estes salários”
Centenas de pessoas concentraram-se este sábado no Rossio, em Lisboa, para uma manifestação do movimento Vida Justa em defesa de melhores condições de vida, apontando o foco aos problemas na habitação, nos salários e nos transportes.
“Fartos de escolher - Pagar renda ou comer”, “Requisição de fogos devolutos” ou “Combater a desigualdade social e económica” eram algumas das mensagens que se liam em cartazes e faixas nas mãos dos manifestantes, acompanhados por várias bandeiras vermelhas do movimento Vida Justa, enquanto a chuva começava a mostrar-se no início do arranque do percurso que irá terminar ao final da tarde em São Bento.
Em declarações à Lusa, um dos porta-vozes do movimento, Flávio Almada, salientou que para uma grande parte da população “já não é possível viver com estes salários”, perante os atuais níveis de inflação, preços da habitação e falta de transportes em torno das grandes cidades.
“Para a grande maioria, [a habitação] é o grande problema. Para nós, das periferias, o problema não vem de agora, mas de há muito tempo”, afirmou, continuando: “As coisas estão cada vez piores e não houve nenhuma mudança substancial. Em termos concretos, não há nada que tenha impacto nas pessoas”.
A manifestação passa ainda pela Rua do Ouro, Rua do Arsenal, Corpo Santo, Rua de São Paulo, Rua da Boavista, Dom Carlos I, até São Bento.