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Medidas “paliativas” e que não cobrem a “ponta do iceberg”: como é que os jovens do Bloco veem as 'prendas’ de Costa

Medidas “paliativas” e que não cobrem a “ponta do iceberg”: como é que os jovens do Bloco veem as 'prendas’ de Costa
NUNO ANDRÉ FERREIRA

Apesar de reconhecerem que podem agradar a alguns jovens “à primeira vista”, os jovens do Bloco de Esquerda não poupam críticas às medidas anunciadas por António Costa. “São medidas bonitas, mas os jovens rapidamente vão conseguir levantar cortina de fumo e perceber não respondem a nada”, partilhou João Carvalho

Um dia antes da rentrée bloquista, António Costa despejou um rol de medidas destinadas aos jovens – desde a devolução das propinas a quem ficar a trabalhar em Portugal à isenção do IRS no primeiro ano de trabalho. Estas ‘prendas’ não convenceram a oposição, da esquerda à direita. Também os jovens bloquistas que rumaram a Viseu para mais um Fórum Socialismo reconheceram alguns pontos positivos entre as medidas, mas exigem que o Governo vá mais longe. “Não me parece que sejam suficientes para cobrir sequer a ponta do iceberg dos problemas na habitação. É preciso ir mais além, desde logo meter um travão nas rendas”, partilhou com o Expresso João Patrocínio, de 27 anos, que ainda vive com os pais por não encontrar uma casa que consiga pagar.

Num dos intervalos entre sessões que enchem o calendário da rentrée do Bloco de Esquerda, João Patrocínio aproveitou para ir aos jardins da Escola Superior de Educação de Viseu fumar um cigarro. “Estou muito cético em relação ao alcance dessas medidas, mas é preciso esperar para ver”, suspirou. Com margem para ainda ser surpreendido pelas medidas anunciadas por António Costa, o jovem não tem dúvidas de que a crise da habitação é “claramente” o problema mais “urgente” da nova geração. “Não é comportável as coisas como estão agora, temos que pagar rendas altíssimas. O Governo devia estar muito mais focado nisso do que em pequenas medidas aqui e ali que não resolvem nem a ponta do iceberg”.

Uma das medidas mais relevantes deste pacote é a devolução do valor integral das propinas nos primeiros anos de trabalho. Por cada ano de trabalho, o Governo vai devolver um ano de propinas – 697 euros por ano se for universidade pública. “Vão devolver as propinas depois das famílias já terem feito o sacrifício e o esforço árduo para pôr os filhos na faculdade, especialmente no caso dos estudantes deslocados. [É uma medida que] não resolve nada”, defendeu João Carvalho, de 24 anos, que faz trabalho autárquico pelo Bloco em Almada. E acrescentou: “eu não quero a devolução de rendimentos, eu quero é ter rendimentos para ir para a faculdade”, num pedido pelo aumento dos salários.

Este jovem militante viu mais um problema na proposta socialista de devolução da propina. “No contexto de inflação em que estamos, 600 euros hoje não valem o mesmo daqui a três anos. Nesse sentido a própria devolução é demagógica, é uma falsa devolução”. Do outro lado do rio Tejo, Bernardo Narciso, de 25 anos, juntou mais uma crítica: “a medida mostra que há dinheiro para acabar com as propinas. Em vez de se eliminar essa barreira ao acesso ao ensino superior, aposta-se em cuidados paliativos que não mudam nada de estrutural na nossa sociedade”.

Com a proposta de devolução a abranger apenas os alunos que decidam ficar a trabalhar em Portugal, o executivo socialista defendeu que esta é também uma forma de fixar jovens no território e não deixar fugir o talento. No entanto, esta visão não encontrou apoiantes na rentrée bloquista. “Não acredito muito na ideia de que isto vai fixar jovens. Ninguém deixa de imigrar por ter mais 700 euros por ano. Quem imigra é porque não tem outra alternativa ou porque quer melhorar bastante a sua vida”, defendeu Bernardo Narciso. “Numa crise de inflação, com os preços das rendas a continuar a subir, estas pequenas benesses são rapidamente diluídas”, acrescentou.

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