Foi uma fuga rápida a um tema da atualidade - que não a guerra na Ucrânia - e obrigou o Presidente da República a explicar-se no final da intervenção. Ía Marcelo a mais de uma hora de discurso perante a plateia de alunos da Universidade de Verão do PSD quando deu o exemplo de uma “questão menor” que ocupa a atenção das pessoas numa altura em que um país europeu está em guerra: o “beijo” que tem enchido páginas de jornais, com o Governo espanhol a pedir mesmo a suspensão de Luis Rubiales da federação espanhola de futebol depois do beijo a Jenni Hermoso.
“Saí da Ucrânia a pensar o que é fazer política, o que é lutar por uma causa, até onde se deve lutar por uma causa, o que dá sentido à vida? É nestas situações extremas que se percebe o que é fundamental. E há coisas tão menores que ocupam a atenção das pessoas - por exemplo, se beijou melhor ou pior, ainda que tenha beijado, enfim…”, começa por dizer, tentando emendar a mão de seguida dizendo que se trata, ainda assim, de “questões de princípio fundamentais”. Mas que acabam por ser “questões menores” quando comparadas com o drama da guerra.
Um drama que impressionou o Presidente da República e que o fez sentir necessidade de partilhar, presencialmente, com os jovens que por estes dias frequentam a Universidade de Verão promovida pelo seu partido de origem. "Eu impressionei-me tanto que pensei ‘vou ter de contar isto a alguém’", disse, acrescentando que não lhe bastava contar aos netos, queria “desafiar a juventude” a pensar no que se passa na Ucrânia.
Só no final da intervenção, que foi longa mas onde Marcelo cumpriu à risca a intenção de não falar de política nacional, esclareceu aos jornalistas que estava mesmo a falar do caso do beijo de Rubiales a Jenni Hermoso. Foi mais cauteloso nas palavras, mas manteve a comparação: é uma “investigação de um crime de assédio sexual”, sim, e é “uma questão grave”, mas é uma questão menor que não deve ter o destaque noticioso todo que tem, se comparada com a guerra.
“É uma questao de investigação de um crime de assédio sexual e é uma questão grave, mas há questões mais graves como a morte em guerra, as vidas humanas de um lado e outro que se perdem, em número massivo…Em termos de destaque noticioso, cada qual é livre, mas uma coisa é um ato criminoso individual a ser investigado, outra coisa é uma guerra com mortes e a vida humana vale sempre mais do que tudo isso”, sublinhou. E saiu sem mais comentários.
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