As 13 formas de fintar perguntas. Mendonça Mendes não responde sobre o SIS: “Há tempo para tudo”
ESTELA SILVA
O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro foi o representante do Governo no congresso do BE e não respondeu às perguntas sobre o telefonema que só o ministro das Infraestruturas confirma ter existido, em que terá sugerido o reporte às secretas
O exercício é difícil, mas António Mendonça Mendes já o fez por duas vezes. Em frente aos microfones dos jornalistas, no final de um congresso, fintou todas as perguntas que lhe foram feitas sobre o telefonema com o ministro João Galamba. No dia do caos no Ministério das Infra-estruturas, o ministro diz ter falado com o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro e contou que foi este que lhe sugeriu que alertasse os serviços de informações. Acontece que é o único a confirmar esse telefonema. Mendonça Mendes hoje voltou a não responder, adensando o mistério sobre a conversa entre os dois.
Por entre atropelos e interrupções, foram 13 as vezes que o secretário de Estado foi questionado este domingo, no final da convenção do BE onde foi em representação do Governo, e as mesmas vezes que deu respostas sobre tudo, menos sobre o telefonema. “Percebo a sua questão e respeito a questão que está a colocar. Há tempo para tudo”, chegou a dizer depois da insistência dos jornalistas.
Já à nona e décima pergunta, travaria a linha do Governo. O “importante” é que “possamos contribuir para a tranquilidade do debate democrático” e por isso, disse, “não vale a pena estarmos sempre a fazer as mesmas perguntas e a dar as mesmas respostas”. “O que é essencial responder sobre essa matéria já foi respondido e eu não tenho mais nada para responder”, disse.
Ora, sobre esta matéria a única pessoa a confirmar a existência do telefonema e o seu conteúdo foi o ministro das Infraestruturas, João Galamba, que, na comissão de inquérito à gestão da TAP, revelou que tinha sido António Mendonça Mendes a dar-lhe a sugestão para a informação às secretas, sobre o extravio de um computado do ministério das infra-estruturas que continha informação classificada, levado por um adjunto acabado de exonerar por telefone. Isto, depois de numa conferência de imprensa no final de Abril ter referido que tinha falado com o secretário de Estado.
O caso avolumou-se porque na passada quarta-feira, o primeiro-ministro fez o mesmo exercício que Mendonça Mendes fez este domingo nos debate bimensal: contornar todas as perguntas sobre o tema. “Hoje, no encerramento da convenção, a coordenadora do BE disse uma frase com que não podia concordar mais. Disse que o essencial” são “as respostas que os portugueses exigem”, as “respostas” para o seu dia a dia, foi dizendo Mendonça Mendes. E aí, foi mais longe na estratégia de se focar “no essencial”, começando a enumerar medidas que o Governo levou a cabo como " ao nível da energia”, respondeu.
“Por que não responder à pergunta”, insistiram os jornalistas. E chegou de novo a resposta sobre o “essencial” que são as respostas para o país e “com resultados". Neste caso, acrescentou a redução do abandono escolar, a descida do preço dos bens alimentares depois da intervenção do Governo com o IVA Zero ou o aumento intercalar para os funcionários públicos.
A estratégia do Governo é fechar-se esse assunto não falando mais nele, como o Expresso noticiou este fim de semana. Contudo, Mendonça Mendes foi chamado para ser questionado no PArlamento, na comissão de economia, onde, uma e outra vez os deputados farão as mesmas perguntas que os jornalistas lhe fizeram este domingo. Mendonça Mendes já sofreu este teste duas vezes. Sofrerá uma terceira vez. E se desta vez foram alguns minutos, no Parlamento a prova de endurance pode durar horas.