Com semanas seguidas de alvoroço político e o Governo em crise, fragilizado com o ‘Galambagate’, começa a cheirar a poder nas hostes laranjas: este sábado, Luís Montenegro falou para uma sala, num hotel de Lisboa, que não chegava para sentar todos o dirigentes que resolveram participar no 3º Encontro Nacional dos Autarcas Sociais Democratas e que tinha Cavaco Silva como cabeça de cartaz. No seu discurso, o líder do PSD acusou António Costa de não querer parar a “balbúrdia”, defendeu a posição do Presidente da República como nunca os anteriores presidentes do partido fizeram, afirmou-se pronto a Governar e desfiou as políticas em que é preciso dar resposta aos portugueses.
Um dia depois de ter divulgado que pediu a António Costa para demitir a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa - por causa da intervenção do SIS no caso Galamba -, Montenegro acusou o primeiro-ministro de não travar o plano inclinado em que se encontra o Governo: “Era bom que esta balbúrdia política e institucional fosse estancada, para a dignidade da política na sua mais nobre das missões, que é servir a comunidade. Só está nas mãos de uma pessoa, António Costa, que é primeiro-ministro".
“Não ter a coragem de terminar, erradicar este momento infelicíssimo, significa ter a responsabilidade de levar o país na má direção", afirmou. Luís Montenegro criticou António Costa por estar apenas à espera que o inchaço da inflamação desinche, para tudo voltar ao normal. Mas para o líder do PSD, que usa as palavras da comunicação ao país do Presidente da República para atacar o primeiro-ministro - “respeitabilidade e credibilidade” -, esta estratégia está a degradar as instituições: "Se entende que é normalizando as anomalias e mantendo tudo na mesma que vai recuperar a confiabilidade, a dignidade a respeitabilidade do Governo, se pensa que é mantendo-se longe da arena desaparecido em combate - a casa arde, mas o dono da casa está fora - e pensa que é isto que vai induzir o país a acreditar no futuro, mais vale muda de primeiro-ministro".
Mesmo sem recorrer à imagem do “dono da casa”, António Costa, a divertir-se no concerto dos Colplay enquanto João Galamba estava a ser espremido na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, com a “casa a arder”, deixou mais uma crítica afiada ao chefe do Governo: “É bom que o país perceba se António Costa já desistiu de governar Portugal e dar dignidade à República portuguesa.” Luís Montenegro cavalga estas fórmulas, dias depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito que "o prestígio das instituições é o mais importante" e que “tudo o resto depende disso.”
Enquanto Marcelo descolou definitivamente do Governo e deixou cair a ideia de que ainda não há alternativa - o "pântano" pode ser mais preocupante que a atomização da direita - Luís Montenegro começa a usar a base de argumentação que o Presidente da República lhe está a oferecer, mesmo que o faça de forma implícita. É algo que nem Passos Coelho nem Rui Rio fizeram durante as suas lideranças, o que chegou a levar Marcelo a dizer que os líderes do PSD não aproveitavam as suas críticas ao Governo, na fase em que eram mais raras.
Aliás, Montenegro vai mesmo ao ponto de defender que o Governo não se pode queixar das condições de governabilidade, exatamente porque não tem nas instituições - leia-se em Belém - uma força de bloqueio (isto apesar do choque sobre a demissão de Galamba). "Não vale a pena [António Costa] dizer que é a oposição ou as outras forças de escrutino do Governo. Pelo contrário, nunca um Governo dispôs dos instrumentos que este tem à sua disposição: maioria monopartidária e uma cooperação institucional absolutamente exemplar. Todos os órgãos de soberania a cooperaram com o Governo para ter razão de queixa".
O líder do PSD havia depois de admitir que tem de desenvolver “hoje, mais cedo do que era suposto”, a criação do foco para “construir uma alternativa política”: “É bom que se saiba o que aconteceu no Ministério das Infraestruturas e porque foram chamados os serviços de informações, mas não vamos subestimar, muito mais importante do que isso, como é que as famílias vão enfrentar o custo de vida”. A seguir, levantou uma série de dossiês a que o PSD tem que dar resposta, das carreiras dos professores à falta de médicos, e à coesão - o tema mais caro aos presentes - mas sem apresentar ainda propostas alternativas.
Todo este ruído, para o líder social-democrata, não impede só o Governo de governar, abafa a própria voz do PSD. “Esses são os assuntos que queremos discutir. Mas só conseguimos entrar nesta agenda mediática se acabar a balbúrdia no Governo”. E apelou a Costa com ironia: “Use a sua afamada habilidade política: convém dizer que ser hábil não é ser habilidoso. Ser hábil é resolver, ser habilidoso é ludibriar”.
A falar para dentro, com as tropas a começarem a cerrar fileiras, enfatizou o facto de os sociais-democratas estarem “coesos e gerar posições comuns”, uma realidade que não aconteceu no partido durante a liderança anterior, de Rui Rio. “Nós, ao contrário do PS e do Governo estamos todos a remar para o mesmo lado, estamos unidos e fortes ao combate que temos pela frente”. Resta saber se uma aceleração do calendário favorece ou prejudica o PSD.
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