Foram precisos quase dois dias para que o Presidente da República falasse ao país depois de se demarcar da decisão de António Costa em manter João Galamba como ministro das Infraestruturas. Esta quinta-feira, a partir de Belém, Marcelo confirmou que esta divergência não significaria uma dissolução do parlamento. Contudo, prometeu aumentar a fiscalização. “Terei de estar ainda mais atento à questão da responsabilidade política e administrativa dos que mandam. Julgava que existia acordo no essencial. Viu-se que não, que há uma diferença de fundo”, disse num discurso pautado de críticas ao próprio ministro das Infraestruturas. Poucos minutos depois, começaram a surgir as reações dos partidos. À direita, só o PSD se demonstrou em sintonia com Marcelo. Enquanto à esquerda, atiraram-se críticas ao Governo e ao chefe de Estado, mas pediu-se novo foco nas “respostas” aos “problemas do país”.
O PSD foi o primeiro partido a reagir às declarações de Marcelo. Hugo Soares, secretário-geral do PSD, afirmou que o partido se “revê” na leitura de Marcelo, confirmando que, para já, não queria um cenário de eleições antecipadas. “O Presidente quer ser o garante da estabilidade, e nós concordamos que deve haver estabilidade”, disse. Contudo, o deputado garantiu que o PSD é a alternativa que Marcelo tem vindo a pedir. “O PSD está preparado para eleições quando elas tiverem de acontecer”, remata. No mesmo discurso, Hugo Soares aproveitou para deixar críticas ao executivo socialista e acusou-o de sair “fragilizado” na “autoridade” e “credibilidade”.
A posição social-democrata não coincidiu com os restantes partidos à direita – incluindo o CDS. Rui Rocha, líder da IL, saiu em defesa de uma dissolução e deixou críticas ao próprio presidente. “Não concordamos com a solução presidencial”, vincou. E acrescentou: “O PR amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de António Costa. São ambos corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer”. Tal como seria esperado, Rui Rocha defendeu que a IL continuará “empenhada” numa alternativa de direita “séria” e de “confiança”.
Também o Chega, na voz de Pedro Pinto, condenou Marcelo por não ter ido “mais além”. “Este não é Governo estável e [Marcelo] já deveria ter terminado com ele”, vincou o deputado.
Outra voz à direita a pedir por uma queda do executivo socialista foi a de Nuno Melo, líder do CDS-PP. O ex-eurodeputado concordou com Marcelo no “diagnóstico” ao “fracasso da governação”, mas discordou “frontalmente” com decisão da manutenção de António Costa e do seu executivo. “Manter-se o atual quadro político perpétua um Governo diminuído e fragiliza o papel do Presidente da República. Não reagindo vigorosamente à desconsideração de António Costa, o PR permite que se instale uma ideia equivoca de que deixou de conseguir garantir um funcionamento normal das instituições democráticas”, escreveu numa nota enviada aos jornalistas.
BE atira em Marcelo, PCP quer centrar em “respostas”
Com o PS sem querer comentar a decisão de Marcelo, à esquerda ouviram-se críticas em quase todos os sentidos. Mariana Mortágua, candidata à liderança do BE, deixou palavras duras ao presidente a quem acusou de ter contribuído para a eleição da maioria absoluta. “O PR está enredado numa maioria absoluta arrogante, prepotente e que não leva o país a sério”, começou por dizer. E completou: “não confiamos nem no Governo nem no presidente da República para apresentarem soluções que as pessoas esperam e precisam para o dia-a-dia”. As críticas ao Governo não ficaram por aqui. Mortágua diagnosticou “problema de credibilidade” causado pela manutenção de ministros que “mentem” e que “sistematicamente” são “absolvidos” pelo primeiro-ministro. Tal como a IL, também o BE se apresentou como resposta que irá garantir “fiscalização” sempre “séria” a governo de PS.
Assim como Paulo Raimundo já tinha defendido, também Paula Santos voltou a tirar a dissolução de cima da mesa. “Não se aproveitem os problemas para evitar as soluções que são necessárias. Há um ano, a Assembleia foi dissolvida de forma intempestiva. Agora, não há nada que impeça o Governo de dar resposta a estes problemas”, concluiu. Pondo esta crise para trás das costas, a deputada pediu que tanto Marcelo como Costa se centrassem em encontrar “respostas” para os “problemas” do país.
Quem acrecentou mais uma crítica à decisão de Marcelo foi Rui Tavares. O deputado único do Livre considou que o presidente deveria ter optado por agendar audições com os partidos com assento parlamentar para discutir a atual situação política, ao invém de tomar uma decisão unilateral. “É pena que não tenha chamado os partidos”, concluiu.
A voz mais próxima de Marcelo foi a de Inês Sousa Real, deputada única do PAN, que congratulou o presidente por ter colocado “a estabilidade e os interesses de Portugal à frente dos interesses políticos”. Já sobre António Costa, a deputada pediu que este avance com “reformas estruturais" dentro do seu executivo.
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