Contra comentadores, contra os avisos do PS, contra a maioria dos portugueses e contra o Presidente da República. António Costa segurou o ministro das Infraestruturas, “informou” Marcelo da decisão e passou-lhe a bola: se quiser dissolver a Assembleia, dissolva. O murro na mesa apanhou todos de surpresa, com socialistas a aplaudir a “coragem” do primeiro-ministro, que virou o tabuleiro do jogo: “Libertou-se do Presidente da República”
“Chega de ameaças”. É o fim da coabitação entre os dois Palácios, como a conhecíamos. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito de várias maneiras, em público e em privado, que queria a saída de João Galamba, e depois de o Presidente da República andar há meses a avisar que tem a bomba da dissolução na mão - basta carregar no botão -, António Costa tirou um coelho da cartola e assumiu as rédeas do jogo. Chocando de frente com o Presidente da República, disse-lhe que não: Galamba não sai porque “não fez nada de errado”, não houve nenhuma ilegalidade na atuação do SIS e cabe ao primeiro-ministro - apenas e só - a decisão de demitir ministros.
"Seria seguramente mais fácil aceitar este pedido de demissão e fazer o que dizem os comentadores, mas entre a facilidade e a minha consciência, dou primazia à minha consciência", disse António Costa, afirmando mesmo que demitir o ministro, como o Presidente sugeria, seria “entrar na dança com o populismo”.
António Costa falava ao país ao início da noite, numa declaração em São Bento que foi o culminar de um longo dia de dúvidas sobre o desenrolar da crise política que tem deixado o Governo à beira do pântano. O dia passou-se entre reuniões à porta fechada, entradas e saídas em palácios e muito silêncio à mistura, com quatro cenários em cima da mesa e com o núcleo duro do Governo fechado a sete chaves: ou Galamba ficava, ou Galamba saía, ou Costa aproveitava e fazia um ‘reset’ ao Governo com uma grande remodelação, ou Marcelo aproveitava a gota de água e mandava o Governo abaixo.
“Ouvi, refleti, mas cabe-me a mim decidir”, disse António Costa, mostrando quem tem o poder de decidir sobre a continuidade dos ministros e admitindo que agiu não só contra o Presidente da República, como provavelmente contra o que pensa a maioria dos portugueses e inclusive o presidente do Partido Socialista (que pediu uma remodelação alargada, pedido do qual Costa disse apenas ter tomado “boa nota”).
Galamba seguiu Pedro Nuno e invocou “perceção” pública para pedir demissão. Mas desta vez Costa segurou o ministro das infraestruturas "Não é preciso dramatizar", diz Costa sobre polémica com Marcelo PSD pede audições urgentes da secretária-geral do SIRP e diretor do SIS. PAN quer ouvir também João Galamba Fiscalização das secretas pediu informação sobre atuação do SIS na recuperação do computador do ex-adjunto de Galamba
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