Marcelo e Costa falam em "ato isolado", partidos lamentam mortes e rejeitam generalizações
CARLOS ALMEIDA
Só o Chega teve um discurso diferente. André Ventura aproveitou episódio no Centro Ismaelita para voltar a criticar política de “portas abertas” na imigração, considerando Costa responsável pelas mortes das duas mulheres. Montenegro pediu investigação rápida para excluir terrorismo e “criminalidade mais violenta”
Presidente da República e primeiro-ministro falaram da morte de duas mulheres no Centro Ismaelita de Lisboa como “um ato isolado” e avisara, desde os primeiros minutos, que era cedo para perceber as motivações do ataque feito por um refugiado afegão."É obviamente prematuro fazer qualquer interpretação sobre as motivações deste ato criminoso", disso o primeiro-ministro, à chegada para as jornadas parlamentares do PS, que decorreram em Tomar.
Pouco depois, o Presidente divulgava uma nota em que até citava o primeiro-ministro. Manifestava pesar pelo “ato criminoso” e acompanhava Costa: “As primeiras indicações apontam para um ato isolado”. Passadas umas horas, Marcelo foi ao Centro Ismaelita usar quase as mesmas expressões e apelar a que não sejam feitas generalizações.
“Sendo um caso isolado, não vale a pena estar a generalizar porque é injusto e é precipitado”, disse o Presidente, que visitou o Centro Ismaelita ao fim da tarde para manifestar a sua solidariedade e o seu pesar às famílias das vítimas e à comunidade ismaelita. "Não há nada que justifique um ato criminoso como este”, ressalvou o chefe de Estado. O Presidente da República espera “que a sociedade portuguesa compreenda que de um ato isolado, tal como ele aparece neste momento, não é possível retirar generalizações”, recordando a importância do serviço prestado por esta comunidade, que espera que continue.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda a rápida intervenção das forças de segurança, considerando que esta atuação pronta “pode ter poupado consequências maiores”. O primeiro-ministro também já o tinha feito e a maioria dos partidos também saudou a prontidão da PSP. Tal como na sua grande maioria também evitaram usar o caso com qualquer aproveitamento político.
“Ainda perplexos com a notícia, condenamos veementemente o duplo assassinato ocorrido hoje no Centro Ismaelita de Lisboa, que desenvolve um trabalho imprescindível no acolhimento a refugiados”, escreveu a coordenadora bloquista, Catarina Martins, uma da primeiras líderes a reagir. “De alma e coração com a comunidade ismaelita portuguesa e com o Centro Ismaili de Lisboa, que há décadas desenvolve um trabalho ímpar humanitário, social e filantrópico”, escreveu Rui Tavares, deputado do Livre.
A outra deputada única, Inês Sousa Real, do PAN, divulgou um vídeo com um apelo à tolerância. “Em qualquer ato criminoso está sempre presente uma intolerância que não devemos aceitar e repudiamos. Pelo que nunca é demais relembrar a importância de sermos uma sociedade tolerante, do respeito pelo próximo, independentemente das diferenças que possamos ter, quer do ponto de vista cultural, religioso, social, entre outras dimensões”, disse Sousa Real, num vídeo enviado às redações
Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, também reagiu nas redes sociais. “De alma e coração com a comunidade ismaelita portuguesa e com o Centro Ismaili de Lisboa, que há décadas desenvolve um trabalho ímpar humanitário, social e filantrópico”,escreveu no Twitter. Do outro lado do plenário, o líder do PCP, Paulo Raimundo, fez declarações à margem de uma manifestação de jovens trabalhadores: “É um ato naturalmente que condenamos. A questão fundamental é as condolências à família, e tudo aquilo que seja necessário agora investigar e resolver, que se resolva rapidamente.”
Montenegro insinua terrorismo, Ventura culpa Costa
As vozes mais diferentes do coro de políticos a manifestar pesar e a evitar generalizações foram os líderes do PSD, Luís Montenegro, e do Chega, André Ventura, ainda que com tons claramente muito diferentes um do outros.
O líder do PSD começou por manifestar pesar no Twitter, mas depois fez declarações à RTP em que disse ser preciso esclarecer muito bem se não há terrorismo ou criminalidade mais violenta por detrás deste episódio. “Espero que as autoridades possam ser muito rápidas no apuramento cabal de todos os contornos desta situação, de modo a podermos tranquilizar o povo português no que diz respeito à nossa segurança e a afastar eventuais cenários de uma criminalidade mais violenta e que possa ter algum contacto com qualquer atividade terrorista ou alguma rede terrorista”, afirmou à RTP em Genebra, onde esta terça-feira concluiu a sua visita a comunidades de portugueses na Europa.
Já o presidente do Chega anunciou que o seu partido requereu a presença do ministro da Administração Interna no parlamento na sequência do ataque no Centro Ismaelita de Lisboa e vai propor um debate sobre política de imigração. “O Chega já chamou ao Parlamento o ministro da Administração Interna, para todas as explicações, o Chega vai agendar um debate com urgência, no parlamento, sobre imigração, segurança e terrorismo”, afirmou André Ventura em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
O líder do Chega considerou que “há questões que têm de ser feitas” sobre os cidadãos afegãos que chegaram a Portugal e "que controlo foi feito" ou ainda, se a "guerra entre sunitas e xiitas pode ou não estar a ser importada para Portugal”.
Ainda antes destas declarações, Ventura tinha sido mais curto e direto a relacionar o ataque com as políticas de imigração. “A política de portas abertas sem qualquer controlo deu nisto. O sangue destas vítimas é responsabilidade do criminoso afegão, mas está nas mãos do governo de António Costa”, escreveu o líder do Chega nas redes sociais.
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