Política

“É inadmissível não termos perspetivas de futuro”: jovens exigem melhores condições de vida e de trabalho

“É inadmissível não termos perspetivas de futuro”: jovens exigem melhores condições de vida e de trabalho
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Esta terça-feira, o caminho do Rossio à Assembleia da República foi ocupado por centenas de jovens a reivindicar por melhores condições laborais. O aumento do salário mínimo, as 35 horas semanais e a revogação do período experimental de 180 dias foram algumas das exigências ouvidas na manifestação nacional de jovens trabalhadores

Saem tarde da casa dos pais, um em cada quatro jovens recebe o salário mínimo nacional e mais de metade recebe menos de mil euros líquidos – mais exatamente, 60,7% dos trabalhadores entre os 20 e os 30 anos, de acordo com os dados do Instituto Nacional divulgados pelo Jornal de Notícias –, estes são alguns dos dados que levaram centenas a juntarem-se à manifestação nacional de jovens trabalhadores, convocada pela CGPT-IN/Interjovem, esta terça-feira. No Dia Nacional e Mundial da Juventude, jovens de várias áreas desceram do Rossio até à Assembleia da República para reivindicar por melhores condições laborais e criticar a “falta de respostas” da maioria socialista.

“Nós jovens estamos a passar por várias crises desde a habitação aos salários baixos. Estas políticas do PS e de direita empurram-nos para fora do país, contra a nossa vontade. Exigimos um presente e um futuro com direitos”, disse ao Expresso, Inês Caeiro, de 23 anos, membro da Interjovem, organização da CGTP. Natural do centro do país, esta jovem veio para Lisboa estudar e viu-se encurralada entre crises. “Tive dificuldade em encontrar um quarto por falta de camas nas residências. Por isso, precisei de trabalhar para pagar um quarto. Depois, não consegui encontrar um trabalho com salário digno. E continuo com muitas despesas com habitação, propinas e agora alimentação ainda mais cara. Claro que tenho de vir para a rua”, resume.

Entre as várias bandeiras da CGTP, vários grupos de sindicatos desceram a calçada do Combro e posicionaram-se em frente da Assembleia da República onde já estava montado um palco para os discursos dos líderes sindicais. Durante o percurso, que durou cerca de uma hora, repetiram-se chavões como “o custo de vida aumenta, a juventude não aguenta” ou “não paremos de lutar, precariedade é para acabar”. “Aqui estivemos acima de mil [pessoas] e depois mais umas centenas no Porto”, contabiliza Dinis Lourenço, coordenador nacional da Interjovem. À grande maioria de jovens, juntaram-se também alguns adultos e pensionistas. “Contamos com esta solidariedade porque os direitos dos jovens também são de todos os trabalhadores. Por exemplo, exigirmos aumentos do salário tem efeitos direitos nas reformas e nas pensões”.

Além do aumento do salário mínimo para 850 euros, com efeitos a Janeiro, os manifestantes exigiram também as 35 horas semanais, a garantia de que um “posto de trabalho permanente” corresponde a um “vínculo de trabalho efetivo”, a revogação do período experimental de 180 dias para “jovens à procura do primeiro emprego e desempregados de longa duração” e a revogação do fim da “caducidade dos contratos coletivos”.

A luta destes jovens chega ainda ao horário de funcionamento das grandes superfícies comerciais. “Exigimos o encerramento aos domingos e feriados das unidades de comércio e distribuição e a regressão do funcionamento até às 22 horas. Como está, é um desgaste para os trabalhadores”, partilhou Joana Bagão, de 23 anos, e funcionária numa grande superfície em Lisboa. “O Governo não nos está a ouvir. Não queremos só sobreviver, queremos viver com dignidade”, acrescentou.

Também Paulo Raimundo, líder do PCP, marcou presença na manifestação. “Neste combate contra os baixos salários, contra a precariedade, contra a desregulação de horários, é uma grande alegria ver esta gente nova, com esta capacidade e esta determinação. Vamos daqui com muita confiança e de peito cheio”, disse aos jornalistas a meio do percurso. O líder comunista aproveitou ainda para considerar “muito limitadas e muito insuficientes” as medidas anunciadas esta segunda-feira pelo Governo, nomeadamente, o IVA zero nos bens essenciais. À medida que os manifestantes iam passando, Paulo Raimundo era aplaudido e retribuía o gesto também com aplausos.

E agora? Esperam que o Governos os “ouça”, mas estão prontos para “voltar para a rua”

A “inação” da maioria socialista é uma das principais razões que levou estes jovens para as ruas de Lisboa e do Porto. Agora, a expectativa é que o Governo atenda a algumas das reivindicações. “É preciso ouvir os jovens, aumentar salários, controlar preços para conseguirmos viver dignamente. Se não nos ouvirem, vamos continuar na rua. Lutar por este pais e por esta juventude é opção, o Governo não nos pode mandar embora”, garantiu Joana Bagão. Esta opinião é partilhada pelos colegas de manifestação e de unidade sindical. “Enquanto não virmos os nossos direitos assegurados, continuamos na rua. A luta não vai parar tanto nas escolas como nos locais de trabalho”, atirou Inês Caeiro.

Caso a posição do PS se mantenha inalterada, este movimento juvenil pretende voltar para as ruas em força no desfile do 25 de Abril e a 1 de Maio, dia do Trabalhador, revelou o coordenador nacional da Interjovem. “Esperamos que o Governo nos ouça e que hajam respostas a estas reivindicações que não são de agora. Senão, vamos intensificar a luta e voltar a trazer os jovens para as ruas”.

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