Presidente e primeiro-ministro viajaram juntos da República Dominicana para o Luxemburgo, numa viagem que tem servido como uma espécie de lua-de-mel para sanar as divergências e a tensão das últimas semanas. Marcelo garante agora que vive uma "coabitação harmoniosa" com António Costa, afastando-se das recentes e duras críticas ao pacote do Governo para a habitação.
Se há apenas uns dias dizia que as propostas do Governo para o arrendamento coercivo eram "inoperacionais", agora muda o tom para mostrar que está tudo bem na convivência entre São Bento e Belém. "Isto é que é uma coabitação feliz", disse, referindo-se à disponibilidade de, depois do jogo Portugal-Luxemburgo, ir com o primeiro-ministro celebrar o resultado com a comunidade portuguesa.
"Eu sou notívago. O sr. primeiro-ministro não é, mas às vezes abre uma exceção", afirmou Marcelo durante um discurso para os portugueses que vivem no Luxemburgo.
O momento é o de mostrar que está tudo bem, que "nunca houve uma zanga pessoal" e que "não" atropelou os poderes do primeiro-ministro, "nem vice-versa". "É evidente que há divergências", admite, para a seguir desvalorizar que "são naturais em democracia e não têm nada a ver com problemas pessoais".
O resto da visita foram sorrisos, trocas de olhares e piadas cúmplices. A agenda da viagem ajuda. Estão no Luxemburgo para apelar aos portugueses que residem no país que participem nas próximas eleições locais, numa deslocação que termina com uma ida à bola para torcerem juntos pela seleção. Não foi difícil contornar os temas polémicos da política nacional, que, aliás, ambos gostam de dizer que não comentam quando estão no estrangeiro.
"As relações entre mim e o Presidente foram sempre amigáveis e as amizades têm esta coisa, cada dia são mais fortes", diz Costa, elogiando ainda Marcelo como "seguramente uma das melhores companhias" que se pode ter em viagem. Tinham acabado de fazer 12 horas de avião desde São Domingo.
Mas houve também piadas que pareceram avisos. Ao lado do primeiro-ministro do Luxemburgo, Marcelo disse a Costa que tivesse cuidado, não fosse Xavier Bettel decidir concorrer a eleições em Portugal. O discurso do presidente era para incentivar os emigrantes portugueses a votarem nas eleições locais, mas a analogia acabou por levá-lo a falar da ida a votos em Portugal.
"Eu já não recebo mais nenhuns votos na terra. Vamos ver se recebo no céu, se lá chegar", disse Marcelo que está já no último mandato possível como Presidente. "O sr. primeiro-ministro nunca se sabe". Estará o Presidente a pensar que terá ainda de lidar com outro chefe de Governo até ao final do mandato? Marcelo dribla a pergunta. "De uma forma ou de outra vai a votos, porque é líder de um partido e esse partido vai disputar europeias e vai disputar autárquicas", responde, argumentando que o seu antigo aluno "é tão jovem, com futuro político".
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes